Princípios para a família da aliança


Acrescentou Deus: Toma teu filho, teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá; oferece-o ali em holocausto, sobre um dos montes, que eu te mostrarei.

Acho que a oferta de Isaque a Deus, feita por Abraão, é uma das mais impressionantes e emocionantes histórias já contadas. Vejo naqueles dias de angústia de nosso patriarca o limite do sofrimento humano quando, por amor a Deus, um homem rompe com seus sonhos e desejos, a ponto de entregar seu tão esperado filho.

Para muitos essa história parece uma seção de tortura, mas temos de entender os propósitos de Deus. Longe de um simples teste, o Senhor estava fazendo uso de sua criação, para cumprir seus desejos. Como já foi postado aqui antes, fomos criados não para nossa felicidade, mas para a satisfação do Criador. Nesse sentido, no desejo de revelar sua glória e preparar o caminho para seu Filho, Deus pediu o que havia dado a Abraão. Ainda que isso tenha causado sofrimento a Abraão, não é crueldade o Senhor exigir o que lhe é de direito. Nada pode ser negado àquele que a tudo possui e dá a quem deseja. Se Deus diz que é hora, é hora.

Abraão, mesmo sofrendo, segue o mandato de Deus. Obedecendo suas ordens, o patriarca leva seu filho amado ao monte onde Deus iria ordenar que fosse construído o templo, no qual seriam realizados todos os sacrifícios. Isaque seria a antecipação de todos aqueles ritos, com a diferença, como sabemos, que ele não derramaria sangue. Na verdade, Isaque não representou as ofertas, mas os ofertantes, que não eram mortos, mas tinham alguém que era morto em seu lugar. Anos depois desta história, então, todo o povo iria para o monte, para não morrer e ver uma vida sendo tirada em seu lugar.

Contudo, Abraão não sabia disso. Tudo que ele sabia era da ordem de matar seu filho. Com sua atitude resignada ele nos mostra o verdadeiro fundamento da família da aliança. Esta, antes de tudo, tem Deus como a coisa mais importante.

Mesmo depois de esperar por anos que Sara lhe desse um filho, Abraão se levanta para obedecer a Deus. Como pai de uma família da aliança, aquele homem não poderia negar a Deus, o ser mais importante de todas as famílias, o que ele desejava. Ainda que sua esposa fosse importante. Mesmo que seu filho fosse tão amado e desejado, aquele pai não poderia deixar de reconhecer que mais importante do que qualquer coisa na existência humana está sua relação com seu Criador.

Gostamos muito de declarar nosso amor pelo Pai, mas será que estaríamos prontos a fazer o mesmo? Estou casado há mais de 3anos, buscando engravidar, mas ainda não consegui. Já estou com 31 anos e ansioso por um filho, que já desejava ter desde meus 23 anos. Pergunto-me, diante dessa história, se eu seria capaz de entregar um filho tão esperado; matá-lo com minhas próprias mãos. Agradeço a Deus por não ter de encarar o mesmo dilema de Abraão, pois Cristo já deu o que o Senhor deseja, mas será que consigo priorizar Deus do modo correto em todas as áreas de minha vida? Estou certo que não.

Você pode dizer que Deus foi cruel. Mas temos de olhar da perspectiva divina. O Senhor já tinha, desde a eternidade, seu plano para enviar seu Filho para morrer na cruz. Ele não sacrificaria inutilmente um ser humano. Seu ensino de total preferência para Abraão era um importante exercício de fé. Mais do que isso, ao vermos o próprio Filho de Deus, podendo livrar-se da cruz, dar sua vida voluntariamente (Jo 10.18), e tudo isso por mandato do Pai, percebemos que não há crueldade. O Senhor estava ensinando uma importante lição a Abraão, que começa com o fato de que nada é mais importante que nosso Deus, mas que não para por ai. Nosso patriarca também veria que nosso sustento vem das mãos de Deus.

Após dias de caminhada, finalmente Abraão chega ao monte Moriá. Assim como Cristo passou três dias morto, Abraão passou três dias pensando que seu filho era um moribundo. Mas assim como Cristo se levantou ao terceiro dia, Isaque também sairia de lá levantado de seu altar. A diferença é que Cristo levantou-se da morte, substituindo o pecador e Isaque, levantou-se da vida, substituído pelo cordeiro provido por Deus. Ao contrário do que muitos podem pensar, Isaque não representou Cristo, mas o povo de Deus. Nesta historio, Cristo é representado pelo cordeiro preso pelos chifres; ele perdeu sua vida para Isaque vivesse. De igual modo, o povo de Deus não prova de sua ira, saindo ileso deste terrível destino, mas não sem vermos nosso Redentor ensanguentado na cruz.

A família que anda nos caminhos do Senhor não só o tem como a principal coisa, como também sabe que é sustentada por ele. Deus dera o filho a Abraão; ele deu a terra a Abraão e, agora, dá algo para substituir seu filho. Abraão aprendera não só a priorizar a Deus, mas a confiar em seu sustento. Nosso pai na fé sabia que não poderia negar seu filho, pois o havia recebido das mãos do Pai, mas diante da possibilidade de perdê-lo, ele aprende que o Senhor é o provedor da vida e de todos os seus aspectos. Não há nenhum tipo de necessidade ou área da vida humana que não seja sustentada por Deus, naquela oportunidade Abraão aprendeu que quem provê redenção é o Senhor.

Estamos acostumados a vermos nosso ciclo familiar como um ambiente sustentado pelos pais. Contudo, a Palavra de Deus nos mostra que tal ambiente é sustentado pelo Senhor. Nossas vidas, assim como a de Abraão, tem cada detalhe cuidado pelo Pai. Nossas necessidades físicas, psicológicas e espirituais estão nas mãos do Senhor. Não somos nós com nossos trabalhos que sustentamos nossas famílias, mas é o Criador quem provê até mesmo a inteligência necessária para trabalhar. Dificilmente encontraremos uma história que deixe tão claro que estamos nas mãos do Senhor – e que belas mãos para se estar. Infelizmente, muitos de nós preferem uma visão libertária do homem, tornando-o dependente de Deus somente no que tange ao espiritual.

Não sei como, mas muitos que se dizem crentes afirmam o dito popular: “faça por onde que eu te ajudarei”; ou: “Deus ajuda quem cedo madruga”. Inexplicavelmente alguns até pensam e afirmam que isso está na Bíblia, mas não há nada nem parecido por lá – talvez na versão revista e personalizada. Se temos consciência de que vivemos em aliança com Deus, firmada desde Adão, então, o entendimento de que estamos totalmente em suas mãos é certo. Não espere uma experiência desesperadora como a de Abraão para aprender esse fato. Aprenda com sua experiência e com o que nos ensina as Escrituras. Abraão não tinha tanto material didático como temos; ele sim teve de aprender muito e foi usado para nos ensinar. Diante dessa história, temos de nos resignar e confiar nas mãos do Senhor, ainda que isso signifique passar por grande sofrimento, pois não podemos nos concentrar tanto na atual situação, a ponto de esquecer das promessas de salvação do Senhor. E este é outro ponto que vemos como a família da aliança se estabelece: nas promessas de Deus.

Muitos de nós tem esperanças para o futuro. Confiamos em nossas poupanças, planos de previdência privada, aposentadorias, heranças e tantas outras coisas. Mas essa história de Abraão nos ensina a esperarmos nas promessas de Deus. Por um lado você pode dizer que o cumprimento de tais promessas podem requerer coisas muito duras de nossas vidas, mas devemos lembrar que depois de toda a angústia pela qual passou nosso patriarca, ele saiu daquele monte com seu filho vivo. Por sua vez, nosso Deus viu seu Filho sofrer, a ponto de sentir-se abandonado pelo Pai, tamanha era a ira deste pelos nossos pecados, e, depois, morrer. Saímos vivos e nosso Redentor sai morto: qual situação será melhor?

Mas temos de voltar um pouco na história de Abraão e lembrarmos da promessa que Deus havia feito. O Senhor prometera uma descendência numerosa como a areia do mar a Abraão. O Pai o havia separado de todo o mundo para trazer sobre sua vida não a terra de Canaã, mas a salvação. Canaã era apenas símbolo da Nova Jerusalém, onde a providência e cuidado de Deus poderão ser descritos de modo ainda mais abundante do que uma terra que mana leite e mel. Portanto, tendo recebido a promessa de Deus, Abraão poderia descansar em saber que o Senhor cumpre suas promessas. Verdadeiramente, nós podemos descansar diante da cruz de Cristo, sabendo que ele cumpriu a promessa de que a ira de Deus não cairia sobre seu povo, mas sobre seu substituto.

Não podemos dar falsas esperanças aos nossos filhos. Não é o que ajuntamos de bens e nossas economias que garantem nosso futuro. Tão pouco uma boa formação vai garantir um futuro a quem quer que seja. Somente vivendo nas promessas do Pai podemos ter uma esperança que não falha. Esperar nas garantias deste mundo é confiar em cisternas rotas que não retém água. Somente nas promessas de Deus, firmada em seu Filho, nosso Redentor, morto na cruz, poderemos ter alguma esperança. Nosso patriarca não poderia deixar de amar a seu, ao mesmo tempo que não poderia deixar de obedecer aquele que lhe dera o filho. Não sabemos o que se passava nos pensamentos de Abraão. Não sabemos se aquele pai ainda tinha alguma esperança, mas se entendemos que ele já conhecia bem a seu Deus, então, certamente ele ainda tinha esperança de vida. Mas, enquanto o Senhor não voltasse atrás, ele não poderia confiar sua possível esperança.

Interessantemente é o Anjo do Senhor que vem a Abraão, impedi-lo de matar seu filho. isso é interessante, pois, quando vemos o modo como o Anjo do Senhor é tratado, temos a nítida impressão de que ele é tratado como Deus. Isso significa que, se temos o Pai claramente exposto no AT, bem como o Espírito, temos, então, o próprio Filho de Deus, aquele que seria morto, dizendo àquele pai que não mate seu filho. Foi o Cordeiro de Deus que impediu a morte de Isaque, afirmando a Abraão que seu comportamento de fé o manteve na aliança – isso tem de ser entendido, pois não houve novas promessas, só a confirmação das que já haviam sido feitas quando Abraão ainda era Abrão de Ur dos caldeus.

Sendo assim, vemos que nosso Redentor age como desvio da ira de Deus sobre o pecador desde o AT. Verdadeiramente temos um sacerdote que vem agindo desde os tempos antigos, firmando ainda mais nossa confiança nas promessas de Deus. Isso conduziu a família de Abraão a viver pelas promessas de Deus. Agir priorizando Deus e confiando em seu sustento, levou nosso patriarca a não negar seu filho e ver a promessa de seu Senhor se cumprir em sua vida. Abraão não tinha de jogar as promessas de Deus em sua cara para contestar o sacrifício de seu Filho. O Criador havia prometido uma grande descendência a partir do filho de Sara, portanto, Abraão poderia ter questionado o Senhor a partir de suas promessas, mas ele preferiu a obediência. Enquanto muitos, por tão pouco, encostam Deus na parede com suas “promessas”, aquele pai não questionou tendo diante de si o desafio não só de perder seu filho, mas de ter de matá-lo com suas próprias mãos.

Confiar nas promessas de Deus, foi o que levou Abraão a ouvir a confirmação de que tudo que lhe fora prometido se cumpriria. Hoje, vemos que tal cumprimento foi muito além do que poderia ter imaginado Abraão. Vemos que não só sua descendência é como a areia do mar, como ela não está presa aos fatores genéticos. A prometida descendência numerosa de Abraão se estabelece naqueles que vivem na mesma fé abraâmica, confiando nas mesmas promessas de salvação.

Se temos a mesma fé desse homem, ajamos como ele. Não neguemos nem duvidemos das promessas de Deus. Quando ele o fez, trouxe consequências que podem ser vistas até nossos dias. Ele teve um filho fora da promessa de Deus, Ismael, que gerou um povo que até os dias de hoje é inimigo mortal dos Judeus.

O não sacrifício de Isaque era um anúncio de nosso não sacrifício. A morte daquele cordeiro no lugar de Isaque era um tipo da morte de Cristo em nosso lugar. Isso deve nos levar a reconsiderar os princípios de nossa família. Ela deve 1° priorizar a Deus; 2° ver-se dependente dele; 3° viver confiando em suas promessas.

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