"Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR!" Jó 1.21

Certamente este é o texto mais difícil de minha vida que escrevo. Ler as palavras do livro de Jó e vivenciá-las em nossa própria vida, nos dá uma dimensão nova do sofrimento e da fé. Depois de alguns meses de alegria e sonho, minha esposa e eu tivemos de ouvir que nosso bebê provavelmente não sobreviverá. Devido ao peso da placenta, seu útero não suportou e a bolsa desceu, passando pelo cólon do útero. Inevitavelmente, a bolsa estourou e os médicos nos avisaram que não há meio de nosso bebê sobreviver.

O mais duro é saber que ele está bem, sem deformações, com o coração batendo forte. Por lei, os médicos tem de esperar pela parada do coração. Esta espera é brutal para nosso coração. Não tenho mais lágrimas e tenho de ser forte para dar apoio à minha esposa. Já estávamos apegados por demais a esta herança de Deus e saber que a vida está, aos pouco, esvaindo-se de seu corpo, na expectativa da hora de tirá-lo de lá é certamente a dor mais forte que já senti. Por outro lado, há a possibilidade de que ele continue a se desenvolver, porém, com grandes possibilidades de que tenha alguma má formação, como falta de parte do aparelho digestivo. Enfim, nenhuma possibilidade nos tranquiliza totalmente.

Dou graças a Deus que minha esposa não é louca como a de Jó, e não me mandou amaldiçoar nosso Criador. Certamente esta é a atitude mais sábia neste momento e é nesta hora que vejo que o mais importante em tudo isso é manter em mente a fidelidade a meu Redentor e ter a certeza de que sua vontade é boa, perfeita e agradável, ainda que me doa.

A única coisa que tem falado tão alto quanto a dor é a certeza de que o tempo que tive não foi com meu filho, mas com o filho de meu Senhor, que o deixou algum tempo conosco, mas que pode querer levá-lo tão logo. Ele é Criador e pode fazer o que deseja de sua criação. Sou o barro que não tem autoridade, conhecimento, meios e auto-suficiência para questioná-lo (Rm 9.20,21).

Essa submissão pode parece um tanto fatalista e “autamente” cruel, mas é a expressão de um coração humilde, sofrido e resignado na certeza de que meu Senhor é bom e misericordioso. Ele o é, não por me fazer o bem, mas com base nele mesmo. Meu Deus sempre foi bom, antes mesmo de me criar, portanto, sua ação, ainda que a de me tirar meu bebê, é boa. É boa por estar em seus planos e por esses planos serem bons, pois partem de um Deus essencialmente bom. O propósito de Deus não é o de me fazer feliz, a não ser na hipótese – já real – de que minha felicidade esteja em ver sua glória, mesmo nos momentos mais duros. E que Deus glorioso é este que, mesmo em tempos tão duros faz suscitar louvor de meus lábios, para adorá-lo por sua sabedoria, soberania e bondade.

Aceito a vontade de meu Deus, pois tenho recebido seu bem, porque não receberia seu mal? Louvado seja o Senhor pela alegria momentânea que tive. Louvado seja Deus pela alegria eterna que tenho em Cristo. Certamente, ela em muito supera este momento tão doloroso: “Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós” (Rm 8.18)

Apesar de tudo isso, nos exames o bebê continua a desenvolver-se. Seu coração está batendo normalmente e continua a se mexer. Não sabemos o que virá, mas sabemos que nenhum prognóstico dos médicos se concretiza alheio à vontade de Deus. Orem por meu filho. Orem por nós três. A esperança está no Senhor, não nos fatos.

Comentários

  1. aleluia.. que palavra gostosa da parte do ESPIRITO SANTO por vc meu irmao que tanto ta sofrendo...

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    1. Meu irmão, fez 3 anos, último dia 18, e ainda doi muito. Grato pelo apoio. A Paz.

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