Oração, um exercício do poder de Deus


O hábito de oração há muito se tornou uma prática distorcida no meio evangélico. O que nos foi dado como um meio de comunhão com Deus, é usado como uma arma numa tal de batalha espiritual. Realmente, eu creio que há uma batalha, que estamos lutando contra o nosso inimigo, mas não creio que a oração seja uma arma direta contra ele. Quero dizer que não creio que por meio de nossa oração dizemos e fazemos algo contra nosso inimigo.

A oração é um meio de crescimento espiritual. Uma vida dedicada de oração nos conduz a um crescimento em nosso relacionamento com Deus, o que, necessariamente, representa um movimento contrário à ação inimigo. Por outro lado, não entendo que a Bíblia tenha ensinado a usarmos a oração, que é um canal de comunicação com Deus, como uma “metralhadora” a ser apontada contra Satanás. Penso que, de fato, a oração é um canal exclusivo para entrarmos em contato com Deus. Seu efeito é muito mais em mim, do que nos de fora, quem quer que seja. Ela me conduz mais a conhecer o poder de Deus, do que a “liberar” Seu poder através de mim.

Acho muito interessante que os autores bíblicos não sabiam nada desse negócio de batalha espiritual, pelo menos, nos moldes atuais. Hoje, vemos líderes, pastores, bispos e apóstolos asseverarem um conhecimento espiritual, que nos conduz a uma vida de oração poderosa. A assertiva de muitos desses leva crentes a baterem os pés, darem voltas entorno de alguma coisa, determinarem, encostarem Deus na parede com suas promessas, darem palavras de ordem a demônios e tantas outras fórmulas misteriosas de fazer coisas acontecerem por meio da oração.

Por sua vez, os autores bíblicos não haviam descoberto tais mistérios. Interessantemente, aqueles que foram inspirados por Deus não utilizaram tais métodos inovadores. Vemos a igreja primitiva e seus líderes mais proeminentes orarem diante de Deus, com muito temor e confiança, mas nunca dando palavras de ordem, encostando quem quer que seja na parede, ou algo que lembre a prática de oração que vemos no evangelicalismo atual.

Alguns, talvez, possam argumentar que a Bíblia nos ensina a chegarmos com intrepidez diante do trono de Deus. No entanto, intrepidez está muito distante da prática que vemos por ai. Longe de querer dizer que podemos chegar cheios de vontades diante de Deus, quando as Escrituras nos falam sobre chegar com intrepidez diante do trono da graça (Hb 10.19) ela está falando do fato de podermos ter confiança que nosso sumo sacerdote fez uma obra tão perfeita, que não precisamos temer a ira de Deus ao nos aproximarmos dele em oração.

Distante, portanto, de significar poder em nossas mãos, a oração, a meu ver, nos conduz ao poder de Deus. Na epístola de Tiago, irmão do Senhor, temos esse ensino dado de modo muito claro. Em Tiago 5.13-20 temos um belo ensino sobre a ligação da oração, seu poder e a comunhão com os irmãos. É justamente neste último ponto que o ensino de Tiago inicia. Vemos que a oração é um meio de comunhão, por meio da intercessão que é feita pela igreja. No entanto, o foco do autor não é este, mas o efeito da oração sobre a vida da igreja.

Tiago iniciou falando sobre a oração intercessória pelo sofredor e doente. O ponto aqui é que um irmão que sofre, seja por questões pessoais ou de saúde, deve ser alvo das orações da igreja. Aliás, a igreja deve estar envolvida desde sua liderança, ou principalmente por sua liderança. Os presbíteros são chamados não só a orarem, mas a ungirem – o que representa a ação do Espírito e também era uma forma de tratamento da época; é como se Tiago estivesse dizendo: - “ore e dê a aspirina.”

Contudo, o texto se torna instigante a partir do verso 15. Ali diz que a oração da fé salvará o enfermo. Aparentemente o texto está dizendo que o poder está na oração, ainda mais quando continuamos no verso16 e vemos que a oração pode muito. Mas tanto no verso 15, quanto no verso 16, existem expressões que demonstram que tal noção está errada.

Antes de tudo, uma melhor tradução do verso 16b seria: “muito poderosa é a oração do justo na sua eficácia.” Isso, tendo o verso 15 de pano de fundo, nos mostra que o poder não está na oração, mas no seu efeito, ou em sua eficácia, que é o Senhor. Quem levanta, ou cura, é o Senhor.

A palavrinha “na” mostra que o lugar do poder da oração é aquele que faz com que a coisa toda aconteça: Jesus. Isso significa que o poder não está na oração, não está na pessoa, não está nas palavras, mas a quem se ora; o que nos leva a entender que fórmulas diferentes de oração, bater pé, determinar, ou coisa que o valha, não fazem diferença, pois o poder está naquele que tem todo o poder, o Rei dos reis.

Além disso, há algo no verso 15 que elucida nosso entendimento da relação entre oração e poder. Ali vemos que a “oração da fé, salvará o enfermo”. O que seria essa oração da fé? Bom, sabemos que a fé não é um simples ato de acreditar, pelo menos no contexto bíblico. Fé, antes de tudo, é uma ligação entre o crente e Deus, por meio da obra de Cristo. Orar com fé, portanto, é orar em Cristo, e é por isso que o Senhor levantará o enfermo. É claro que a relação fé e oração tem muito mais a ser dito, mas por agora basta entendermos que a fé é a ação de quem não pode nada por si mesmo. A fé não é a força motriz, mas a ligação com tal força. Em outras palavras, fé é a prática de quem se reconhece incapaz e dependente de outro, Cristo, e, portanto, vai diante dele de mãos vazias, certo de que, se alguém pode, é ele.

Desta forma, a oração é um exercício do poder de Deus, ou melhor, da confiança no poder de Deus. O exemplo utilizado por Tiago nos conduz justamente a essa idéia. Ele fala da oração de Elias. O profeta orou e parou de chover e orou novamente e voltou a chover. Mas quem conhece a história de Elias, sabe que ele orou segundo a palavra que Deus lhe revelara. Isso significa que Elias não causou a estiagem, ou mesmo a volta da chuva. Elias, tão somente, mostrou a seus inimigos que o único Deus capaz de ouvir as orações de seus servos é Iavé.

Elias era homem, como todos nós. Temeu, fugiu, escondeu-se, chorou, clamou e teve de confiar no poder de Deus, ou alguém pensa que foi pela vontade de Elias que os corvos o alimentaram? De modo algum! Tiago entendeu e escolheu um belo exemplo de uma oração de fé, que ouve a vontade de Deus e pede o que ele ordena, confiando no seu poder e sabedoria. Oração da fé é a oração da confiança, do descanso, da humildade, da expectativa de ver o poder de Deus agir. Ou seja, a oração não tem poder em si mesma, Deus sim!

Meus irmãos, orem! Orem com fé em Deus; em seu poder e na confiança de que sua vontade é boa, perfeita e agradável. Não bata o pé, não determine, não se sinta poderoso, pois isso desvia sua fé da ação de Deus, para sua capacidade de dizer as palavras corretas, ou mesmo de se estar num estado tal de espiritualidade, que até os demônios obedecem ao seu comando. Nunca! Só o nome de Jesus, só seu poder, só sua vontade podem mover, curar, destruir ou realizar algo, seja na realidade física ou espiritual de nossa existência.

Comentários

  1. Hoje estou aqui...
    Hoje estou a teu lado
    Minha amizade oferecendo
    E baixinho te dizendo:
    Estou aqui
    Hoje téns o que pedes
    Alguém que pensa em ti
    Que dê paz ao teu coração.
    Hoje quero dar-te força
    Para que possas acreditar
    Que depois da tempestade
    Um lindo dia vai raiar.
    Hoje aqui estarei
    Para dizer-te que és capaz
    De tudo vencer
    Hoje vamos caminhar
    E vais descobrir
    Que no teu caminho existo
    E estou aqui!
    Eu Sou JESUS

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  2. Sérgio,

    grato pela visita. Belos versos. Eu, particularmente, não sou muito chegado em textos, músicas e poemas que fazem como se fosse Deus falando. Mas, se esses versos forem seus, você tem talento.

    Abraço, bençâos.

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