Qualidades essenciais do conselheiro cristão

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Introdução

               Observando as Escrituras, vemos várias instruções que penso serem próprias ao conselheiro bíblico. Temos instruções para que haja consolo, conselho, admoestação, instrução e discipulado no seio da igreja. As características próprias para que tais atividades possam ser corretamente desempenhadas pelos cristãos são, portanto, aqueles indispensáveis ao conselheiro bíblico. Nesse sentido, podendo haver outras atividades, podemos tomar as seguintes essas atividades como diretrizes, para que, destas, investiguemos as qualidades essenciais do conselheiro bíblico.
Consolo tem a ver com os momentos difíceis da vida. É a atividade que exige qualidades que ligue o conselheiro e o aconselhado além do conteúdo. Emoções estão fortemente envolvidas e as qualidades do conselheiro devem atender a necessidade do aconselhado a um tempo de choro, dúvidas e desânimo provenientes dos sofrimentos.
Conselho, conforme será visto, tem a ver com dar a direção. O conselheiro bíblico tem de ter qualidades que lhe permitam auxiliar o aconselhado e ver o que precisa ser visto, isso é, em que direção ele deve ir. Certamente, tal direção, tratando-se do aconselhamento bíblico, terá de ver com as diretrizes da Palavra de Deus.
Admoestação é a atividade própria descrita pelo termo aconselhar. Por muitas vezes o aconselhamento deve tomar a vertente da admoestação, tendo em vista que o aconselhado trata-se de um pecador. Certamente, sendo ele pecador, há a necessidade de se alertá-lo, chamando sua atenção para mudanças e adequações à Palavra de Deus em sua conduta. O conselheiro, portanto, deverá ter aquelas qualidades necessárias à avaliação de situações e identificação de erros o modo correto para apontar os caminhos.
Quanto à instrução, podemos olhá-la também no aspecto do discipulado. O conselheiro está, em muitos momentos, incumbido de formar o caráter de um cristão. Ou mesmo, terá o papel de mostrar a doutrina na prática. De fato, essa atividade é mais presente. Ter as qualidades próprias para a instrução é o que há de mais básico ao conselheiro bíblico. Se ele não conhece e não sabe como viver as Escrituras, ele pode ser conselheiro, mas não bíblico, logo, não com bons conselhos.
Vejamos, portanto, de modo resumido, cada uma dessas atividades, das quais compreenderemos as qualidades essenciais do conselheiro bíblico.

1. Consolo


O consolo entre irmãos é uma ordenança bíblica desde o Antigo Testamento. Ali vemos algumas passagens que falam de consolo: Jó 2.11, 21.2, 29.25; Sl 119.50; Is 51.12, 57.17, 66.13; Jr 16.7. Essas e outras passagens usam o mesmo termo hebraico e a mesma tradução para a LXX. Por sua vez, o mesmo termo[1]da LXX é utilizado em todas as passagens do Novo Testamento.
Os termos, tanto no Antigo, quanto no Novo Testamento, referem-se ao ato de animar, confortar, ou conduzir a pessoa a um estado de ânimo melhor. Essa ação, via de regra, no Antigo Testamento, estava ligada à pessoa de Deus, motivando seu povo a vislumbrar seu caráter, feitos e promessas. Esse vislumbre daria ao povo um novo olhar sobre a situação. Diante disto, a animação voltaria aos corações, suplantando os temores e sofrimentos do povo.
No Novo Testamento, o consolo tem mais a ver com a convivência do povo de Deus. A igreja deve ser aquela a derramar as bênçãos divinas sobre os que se aproximam. Passagens como 2Coríntios 13.11; 1Tessalonissenses 4.18, 5.18 falam da mutualidade do consolo, de modo que, podemos entender que é desejo de Deus que a igreja manifeste seu caráter nos momentos difíceis de uma pessoa: qual seria esse traço do caráter de Deus, a ser manifesto por um servo e que nos apontaria uma das qualidades essenciais de um conselheiro? Compaixão.
O conselheiro precisa ser alguém que vê a angústia alheia e se compadece dela. Frieza e indiferença não combinam com o papel do conselheiro porque, antes de tudo, não faz parte do caráter divino. Deus não está impassível quanto às nossas angústias, tão pouco o conselheiro bíblico, ainda mais por este estar exposto aos mesmos dissabores da vida.
Escrevendo aos romanos, Paulo resume bem essa qualidade ao ordenar; “Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram” (Rm 12.15) Esse verso nos leva a crer que a compaixão tem a ver com o sentir o que o outro sente. Comumente, não vemos pessoas alegres buscarem consolo, ou orientação, de modo que, o conselheiro terá de lidar mais com os que choram.
Momentos difíceis e de dor precisam do consolo, isso é, da ação que anime, que ajude a conduzir o aconselhado ao tempo do riso novamente. Isso nos leva a crer que a compaixão não é um afeto que anda sozinha; não é possível ter compaixão sem amor.
Em uma carta na qual transcorre um longo arrazoado sobre o amor, João, em sua primeira epístola, escreveu:
Ora, aquele que possuir recursos deste mundo, e vir a seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade. (3.17,18)

Compaixão, como pode ser visto pelos versos, é manifestação do amor. Ninguém pode dizer que ama seu próximo e não sentir suas dores; não chorar seu choro, ou mesmo não sentir sua fome. Amor e compaixão, portanto, são qualidades complementares e indispensáveis ao conselheiro bíblico, que tem o dever de manifestar o caráter do Deus amoroso ao aconselhado. Conforme nos disse o apóstolo: “Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor.” (1Jo 4.7,8). Como bem lembrou Paul Tripp:
O amor de Cristo não é só o alicerce para a nossa esperança pessoal, mas a nossa expressão desse amor, é a única esperança de sermos eficientes por Cristo com as outras pessoas.[2]


2. Conselho


Dar conselho significa dar a direção, apontar o caminho. O conselheiro bíblico deve entender que parte de seu papel é o de ajudar seus aconselhados com decisões. Dar a direção nesta ou naquela direção é uma atividade com grande demanda, dados os dilemas éticos e tantas outras razões, que nossa realidade caída costumeiramente nos traz. O conselheiro deve ver-se com instrumento nas mãos do Espírito Santo, para aplicar a Palavra de Deus e ajudar nos problemas humanos.[3]
Na Bíblia, diversas são as passagens que nos mostram a relação entre conselho e direção: 1Rs 12.28; 2Cr 22.5; Es 10.3; Pr 12,15; Jr 7.24; Ef 1.11. Entre conselhos de Deus, alheios, ou os próprios, quando se menciona o conselho, segue-se a direção.
Direcionar pessoas requer muita sabedoria. O conselheiro está lidando com vidas. Conselhos não podem ser dados irresponsavelmente, baseados em conceitos e pressupostos formados a partir da experiência própria ou por achismo. O conselheiro deve ser sábio.
Nesse sentido, devemos nos lembrar do que nos dia Provérbios 1.7a: “O temor do Senhor é o princípio do saber”. A sabedoria para dar a direção vem do temor. O sábio é temeroso. Compreendendo sua realidade caída, sabendo da vontade daquele que é o Todo-Poderoso, o sábio guia seus caminhos de modo a adequarem-se aos do Criador, afinal, sabedoria é “o uso hábil da verdade divina para a glória de Deus”[4]. O conselheiro cristão, Larry Crabb, afirma sobre o alvo do aconselhamento, o que corrobora para essa argumentação: “Deus prometeu reproduzir o Seu Filho em cada um de nós, e agora temos o privilégio de cooperar com Ele no atingir desse objetivo.”[5] [sic] Ainda, ao falar da busca pela felicidade que o aconselhado faz ao tratar de suas dificuldades, Crabb nos ajuda mais um pouco: “Se quero experimentar a verdadeira felicidade, devo desejar acima de tudo tornar-me mais como o Senhor, viver em sujeição à vontade do Pai, conforme Ele fez.”[6] [sic]
Sendo assim, para dar conselho, ou direção, o conselheiro é alguém que teme. Por temer dá o conselho sábio, correto, que satisfaz a Deus. Mais do que simplesmente querer evitar um problema, o conselheiro deve apontar um caminho ao aconselhado que agrade ao Senhor, tendo em vista que Cristo foi justamente nessa direção, ao dizer: “A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4.34).
Salmo 1 nos deixa muito claro que seguir conselho dos ímpios gera autodestruição. Enquanto o justo, que medita na lei do Senhor e por ela guia seus caminhos, dá frutos e tem intimidade com o Todo-Poderoso, o que não segue sua lei verá seu caminho perecer. Portanto, dar certo, segundo o salmista, é a obediência, a satisfação da vontade divina.

3. Admoestação


Admoestação é a atividade indicada por Paulo em Colossenses 3.16: “instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus…”. Apesar de ser usada a palavra “aconselhai-vos”, o termo vem da palavra grega para “admoestar, exortar”.[7] O conselheiro deve estar pronto a chamar a atenção de seu aconselhado. Mais do que isso, o conselheiro adverte, estimula e encoraja.[8]
Ainda que esta não seja uma atividade exclusiva do conselheiro bíblico na dinâmica da igreja, justamente por isso faz parte de seu papel, pois ele é parte da igreja. Paulo trata essa atividade com uma das ações de mutualidade na vida da igreja. É uma constante necessidade de nos apoiarmos, dando ao irmão ajuda para que se mantenha no caminho, apontando o desvio, estimulando-o à correção e o encorajando pelo companheirismo.
Na qualidade de alguém que irá tratar diretamente com uma pessoa que se abrirá e exporá seu coração, é essencial ao conselheiro cristão a discrição, ou sigilo. O conselheiro não pode ser um falastrão, dado à fofocas e publicidade de suas atividades de aconselhamento. Como bem disse Isaltino Gomes Coelho Filho:
E você terá traído quem confiou em você. Poucas coisas são tão ruins para um pastor ou para um conselheiro que ser conhecido como fofoqueiro, como alguém que passa para frente coisas que ouviu em confidência. Há pastores que contam de púlpito experiências de gabinete. Não citam o nome da pessoa, mas deixam pistas claras de quem sejam. Isto é muito ruim.[9]

Ainda que o uso de exemplos de aconselhamentos feitos não seja um erro em si, o uso abusivo dos mesmos pode gerar muitos problemas. O conselheiro deve lembrar-se de nossas imperfeições e que devemos agir com muito temor ao citar um aconselhamento, cuidando que informações específicas não conduzam os ouvintes a identificarem de quem se fala. Essa qualidade, assim, nos conduz à outra qualidade essencial àquele que terá vidas abertas diante de si: humildade.
A humildade é necessária por duas vias. A primeira é que, se é papel do conselheiro admoestar ao deparar-se com algum pecado em seu aconselhado, a humildade conduzirá a admoestação de modo bíblico e não altivo. Jesus nos ensinou:
Não julgueis, para que não sejais julgados. Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão. Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis ante os porcos as vossas pérolas, para que não as pisem com os pés e, voltando-se, vos dilacerem.  (Mt 7.1-7)

Admoestar exige humildade, para que estejamos prontos a reconhecer nossos erros e nos endireitarmos primeiro, antes de procurar endireitar o irmão.[10] Ela conduz o conselheiro bíblico a uma admoestação sincera, de pecador para pecador, ajudando na confiança e identificação do aconselhado para o conselheiro.
O outro viés da humildade é que ela conduz o conselheiro por uma admoestação bondosa. Como consequência de um coração que não se conduz em hipocrisia, a compreensão dos dramas de uma realidade caída, exigem bondade ao tratarmos dos pecados de nossos irmãos.
Paulo escreveu aos romanos: E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros.” (Rm 15.14) É interessante que Paulo tenha escrito que a bondade é parte do que nos torna aptos a admoestar. O pastor João Calvino nos dá excelente direção nesse assunto:
Não há nada pior no conselho fraternal do que um espírito azedo e arrogante, pois ele nos leva a desdenhar e a sentir enfado por aqueles que se acham em erro, e nos leva a ameaçá-los com o ridículo em vez de corrigi-los. A aspereza também, seja em palavras, seja em expressão, priva o nosso conselho de seus efeitos. Ainda, quando excedemos em espírito humanitário e em cortesia, jamais seremos as pessoas certas para ministrar conselhos, a não ser que cultivemos muito sabedoria e adquiramos muita experiência.[11]

Aspereza e falta de humildade minam a bondade, que é essencial para um tratamento correto do irmão faltoso. Admoestação ríspida e sem demonstração de amor, conduz à revolta e rejeição do conselho. Por isso, o conselheiro humilde lembra de sua própria posição e compreende a do aconselhado. O que nos leva a outra qualidade essencial do conselheiro: empatia.
Empatia tem a ver com a compaixão, tratada anteriormente. Ela nos identifica com os sentimentos do outro. Indo além da compaixão, vai ao reconhecimento de que a condição do outro é perfeitamente a própria. Além de sentir o que é do outro, sabe que se está na mesma condição do outro. É uma identificação profunda entre conselheiro e aconselhado. Isaltino resume: “Sobre empatia, o prefixo grego en nos esclarece: é ‘sentir dentro’, “sentir como se fosse a pessoa’”.[12]
Em Hebreus 4.15 vemos que o compadecimento de nosso Senhor por nós está ligado à empatia. Nosso Senhor tomou nossa natureza para si e foi tentado, assim como nós. Mesmo não tendo caído em pecado, ele conhece nossa realidade. Isaías mostra a profundidade desse conhecimento, ao mostrar que em sua empatia, Cristo foi às últimas consequências: “Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido.” (Is 53.4) O apóstolo João mostra o desprendimento do amor de Cristo ao colocar-se em nosso lugar: “Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu Pai.” (Jo 10.15)
O conselheiro tem de saber se colocar no lugar do outro. Admoestar sem compreender e colocar-se no lugar do outro traz frieza e distanciamento, o que abala a efetividade de qualquer aconselhamento, tornando o aconselhado um peso ao conselheiro, que vê os erros do irmão com desdém e descrédito. Portanto, o conselheiro, que deseja admoestar com eficácia, deve ser paciente, longânime.
Após descrever o amor de Cristo e mostrar ser este algo incomensurável, Paulo mostra aos Efésios que este amor deve ser visto na Igreja. Ele rogou aos irmãos:
“Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz;” (Ef 4.1-3)

O amor de Cristo deve ser demonstrado também pela paciência. O conselheiro, como um modelo do Redentor ao aconselhado, deve agir com paciência diante das dificuldades do aconselhado. Irritar-se facilmente não é agir em conformidade com aquele que é descrito como “tardio em irar-se” (Ne 9.17; Sl 145.8; Jl 2.13; Jn 4.2; Na 1.3)
A paciência é o ritmo do amor. Ela faz o conselheiro caminhar o quanto for necessário, a fim de ajudar o aconselhado. Ela conduz não só o tempo, mas até mesmo a fala do conselheiro, que aprende que a paciência é fundamental para suas palavras, a fim de que sua admoestação não se transforme em peso insuportável a seu aconselhado. Costumo dizer às minhas ovelhas que verdade dita sem amor é crueldade.
Simplesmente dizer as coisas por serem verdades pode fechar as portas de um aconselhamento. Chamar a atenção não é uma atividade muito bem recebida, de modo que, dizer simplesmente as coisas, sem andar algumas milhas, para encontrar a melhor forma de dizer, não é condizente com um bom conselheiro bíblico.
Tripp nos chama atenção para o fato de que a confrontação bíblica não se trata de uma lista de acusações. De fato, pacientemente, devo aproveitar o convívio, para, a cada encontro, trabalhar as áreas que exigem mudanças. A Escritura parte do pressuposto de um convívio contínuo – de fato, eterno – o qual me permite investir tempo em diversos encontros. É o coração sendo exposto progressivamente.[13]
  

Em todas as atividades aqui tratadas, vimos diversas qualidades que são essenciais ao conselheiro cristão. Por detrás de todas elas temos algo preponderante e que achei por bem tratar neste ponto: conhecimento. O conselheiro deve ser alguém preparado para dar conselhos, admoestações, consolo e instrução.
Muitas vezes, as sessões de aconselhamento tornam-se instrução da Escritura. Obviamente, por se tratar de aconselhamento bíblico, sempre há instrução bíblica, contudo, o aspecto aqui abordado é a instrução doutrinária, antes do restante. Por essa razão, abordamos aqui o aspecto do conhecimento que deve ser visto em duas vertentes: conhecimento bíblico e técnico.
No texto de Romanos 15.14, já abordado anteriormente, além de falar da bondade daquele que admoesta, Paulo menciona o conhecimento. Após expor detidamente a doutrina da justificação pela fé, certamente que o apóstolo não está falando de qualquer conhecimento. Esse fato é corroborado pela passagem Colossenses 3.16, na qual o que deve habitar ricamente nos irmãos, para que estejam aptos a admoestar é a palavra de Cristo.
É a partir da palavra de Cristo que instruímos. É a partir das verdades do Evangelho que zelamos para que o aconselhado seja direcionado a uma vida que agrade a Deus. Muitas vezes, a instrução bíblica direta, mostrando as doutrinas na vida prática é a real necessidade do aconselhando.
O conselheiro bíblico parte do pressuposto de que a Escritura é a verdade sobre Deus, o homem e as coisas. Desta forma, sua orientação pressupõe, fundamenta-se e dirige-se à Bíblia. Como bem afirmou Wadislau Gomes: “A diferença crucial entre a aproximação terapêutica e o aconselhamento redentivo está na antropologia que sustenta cada uma delas.”[14] O que é verdade no modelo de aconselhamento bíblico Redentivo deve ser para todos os outros.
Se é verdade para o conselheiro que a Bíblia é a Palavra de Deus, conhecê-la é essencial. É ela quem vai me dizer: quem é o homem; qual seu problema e onde ele está; qual a solução? Sem conhecimento bíblico, não há, obviamente, o que ser chamado de aconselhamento bíblico. Por óbvio que isso possa parecer, esse conhecimento não se trata apenas de versos decorados ou da sistematização dos temas da Bíblia, mas da compreensão de suas relações com a vida.
Nesse sentido, o conhecimento técnico teológico e do aconselhamento se tornam fundamentais. Saber conduzir o texto bíblico para uma aplicação na vida é o aconselhamento em si. Admoestar, apontar o caminho, consolar, nada disso será eficazmente uma ação transformadora e conformadora à imagem de Cristo, sem conhecimento de como as verdades bíblicas se aplicam à vida.
Tremper Longman, falando da Palavra como uma semente da vida, mostra-nos o quanto ela é cara ao aconselhamento:
A Palavra é o lugar aonde vamos se quisermos amadurecer, se quisermos alcançar todo o potencial nas áreas da vida. Se sinceramente lermos a Bíblia abertos ao seu divino autor, isso mudará nossa mente, enriquecerá o espírito e cada dia nos guiará. Nada mais é tão poderoso para mudança ou tão profundamente realizador.[15]

Portanto, instruir exige conhecimento. Aconselhamento exige conhecimento bíblico e técnico. Não saber a Bíblia, mas saber usá-la para que, de fato, o conselheiro seja o meio pelo qual a Escritura será apresentada como o tesouro que enriquece e transforma a vida. É necessidade última, pois, como pode alguém consolar sem conhecer as verdades sobre nossa condição caída e o propósito do sofrimento nos planos divinos? Como motivar ao tempo do riso, após o luto, se as promessas divinas? Qual caminho apontar àquele que está em dúvida? Sobre que trilhos colocar aquele a quem admoestamos? Sem o conhecimento da Palavra de Cristo, nada se pode fazer – e melhor que nem se faça.


Outras qualidades poderiam ser abordadas, contudo, as que aqui foram vistas são suficientes para demonstrar que o perfil do conselheiro não é simples. Não é simples seu trabalho, por isso, a exigência em determinadas qualidade se justifica. Vimos diversas atividades do aconselhamento bíblico, que demandam tais qualidades, tornando um desafio ao conselheiro formar seu caráter e estar pronto a desempenhar cada uma dessas atividades.
Contudo, as qualidades abordadas em cada atividade não são, de forma alguma, exclusivas de cada uma das práticas aqui abordadas. Da mesma forma que as atividades descritas podem misturar-se na prática do aconselhamento, de modo que alguém que está admoestando, também esteja consolando, ou instruindo, de igual modo, as qualidades mostram-se gerais e necessárias nas mais diversas áreas do aconselhamento.
Isso significa que o fortalecimento de cada uma delas será de grande ganho para a atividade do conselheiro. Desenvolvê-las é demonstração de amor ao próximo e, antes de tudo, a Deus que outorgou o aconselhamento ao conselheiro. Justamente por ser um chamado divino que o conselheiro tem um compromisso com a glória de Deus.
Nesse sentido, as qualidades aqui vistas têm por objetivo não só tornar eficaz a atuação do conselheiro. Antes, essas qualidades são essenciais para que o aconselhamento seja um ambiente, uma ação proclamadora da glória daquele que é “Maravilhoso Conselheiro”. Mais do que ajudar ou resolver os problemas, o conselheiro revela o Pai ao aconselhado, não só em suas palavras, também em seus afetos e caráter.
Particularmente, tenho visto a necessidade contínua em algumas áreas. Preciso melhorar o conhecimento de como conduzir o aconselhamento, de modo a expor as Escrituras mais claramente, dadas as questões particulares, como vícios, problemas familiares e outros problemas específicos do ser humano.
Ainda, o amor é sempre um desafio. Ele possui muitos desdobramentos, de modo que ter cada um deles torna-se um processo longo e contínuo na vida de um conselheiro.
Por último, o grande conteúdo bíblico pode nos tornar enfatuados. Preciso muito zelar pela humildade, para que meus aconselhamentos não se tornem palanques para mostrar o quanto sou bom – esquecendo-me de quem de fato sou.

Bibliografia


ADAMS, Jay, Conselheiro Capaz. São Paulo: Fiel, 1977.
CALVINO, João, Romanos. São Paulo: Paracletos, 1997.
CRABB, Larry, Aconselhamento Bíblico Efetivo. Brasília: Refúgio, 1999.
_____________, Princípios Básicos de Aconselhamento Cristão. Brasília: Refúgio, 1998.
HENDRIKSEN, William, Colossenses e Filemom. São Paulo: Cultura Cristã, 1993.
GOMES, Wadislau Martins, Aconselhamento Bíblico Redentivo. São Paulo: Cultura Cristã, 2004.
LONGMAN, Tremper, III, Lendo a Bíblia com no coração e a mente. São Paulo: Cultura Cristã, 2003.
TRIP, Paul David, Instrumentos nas mãos do Redentor. São Paulo: Nutra Publicações, 2009.

Sites:
Coelho, Isaltino Gomes, Filho, O Perfil e Atributos do Conselheiro Bíblico, em http://www.isaltino.com.br/2011/11/o-perfil-e-atributos-do-conselheiro-biblico/.
LOPES, Augustus Nicodemus Gomes, É Proibido Julgar?, em http://tempora-mores.blogspot.com.br/search?q=n%C3%A3o+julgueis.



[1]Por tratar-se de um trabalho visando uma palestra, o autor deste trabalho optou por não colocar os termos hebraico e grego (~x;n",parakale,w).
[2] TRIP, Paul David, Instrumentos nas mãos do Redentor. São Paulo: Nutra Publicações, 2009, p. 166.
[3] Cf. ADAMS, Jay, Conselheiro Capaz. São Paulo: Fiel, 1977, p. 72.
[4] Ibid., p. 73.
[5] CRABB, Larry, Princípios Básicos de Aconselhamento Cristão. Brasília: Refúgio, 1998, p. 103.
[6] Ibidem, Aconselhamento Bíblico Efetivo. Brasília: Refúgio, 1999, p. 16.
[7]nouqete,w
[8] Cf. HENDRIKSEN, William, Colossenses e Filemom. São Paulo: Cultura Cristã, 1993, p. 119.
[9] Disponível em http://www.isaltino.com.br/2011/11/o-perfil-e-atributos-do-conselheiro-biblico/, acessado em 05/06/2013.
[10] Cf. LOPES, Augustus Nicodemus Gomes, http://tempora-mores.blogspot.com.br/search? q=n%C3%A3o+julgueis, acesso em 05/06/13.
[11] CALVINO, João, Romanos. São Paulo: Paracletos, 1997, p. 497.
[12] Isaltino, O Perfil e Atributos do Conselheiro Bíblico, site.
[13] Trip, Instrumentos nas mãos do Redentor, p. 274.
[14] GOMES, Wadislau Martins, Aconselhamento Bíblico Redentivo. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 15.
[15] LONGMAN, Tremper, III, Lendo a Bíblia com no coração e a mente. São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 20.

Comentários

  1. Blog encantador,gostei do que vi e li,e desde já lhe dou os parabéns, também agradeço por partilhar o seu saber, se desejar visitar o Peregrino E Servo, ficarei também radiante
    e se desejar seguir faça-o de maneira que possa encontrar o seu blog, porque irei seguir também o seu blog.
    Deixo os meus cumprimentos, e muita paz.
    Sou António Batalha.

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    1. Muito obrigado. Fico feliz que tenha encontrado meu blog e por seu desejo de segui-lo. Bênçãos!

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