Covid-19 e a esperança de que tenhamos aprendido algo


        Para mim é muito difícil dizer há quantos dias estamos de confinamento. Como adoeci com uma dengue um bom tempo antes disso tudo, uma coisa já foi emendando na outra e estou em casa há tanto tempo que nem sei. Apesar disso, creio que tenho podido observar e aprender muitas coisas no confinamento, com as notícias e sobre a Igreja.
No confinamento, aprendi que o tédio vem da desocupação.
Estar no mesmo lugar não me impede de fazer muitas coisas diferentes. Em minha casa, converso com minha esposa, brinco com meu filho, tenho trabalhado muito, leio, jogo vídeo game, converso com meus irmãos, família, arrumo coisas em casa e por ai vai. Percebo que ao longo da vida vamos nos restringindo nos afazeres e atividades e, em situações como essa, percebemos que nos dedicamos tanto em tão poucas coisas que, quando privados delas, já não sabemos o que fazer. Portanto, creio ser bom que tenhamos uma vida que desfruta das mais variadas atividades, desde as mais frugais, até as mais nobres e intelectualmente exigentes. Diante disso, se lance a novas atividades de lazer, aprendizado e até de trabalho voluntário – desfrute da variedade da criação de Deus (Sl 104.24).
Com as notícias, aprendi que nada sabemos. O homem, desde o Iluminismo, tem se tornado arrogante e pensa ter em sua mente a medida de todas as coisas. De fato, sua confiança em seus sentidos é tão profunda, que a Revolução Francesa declarou: “nenhum Deus, nenhum senhor”. Deus tornou-se desnecessário na interpretação do mundo e o homem olhou para dentro de si. Contudo, em situações como a que vivemos, com uma imprensa espalhando notícias terríveis, profissionais da saúde nos pedindo para ficarmos em casa, um presidente e empresários pedindo para voltarmos às ruas e às nossas vidas, pois a economia parada trará um problema maior que o vírus, percebemos que todos têm suas razões e números e, no fim, a razão humana não se mostra suficiente. Deuteronômio 29.29 já nos avisava que Deus não revelou todas as coisas; não temos todos os elementos. O homem só sabe o que lhe é dado por Deus e, mesmo assim, o pecado cuida de deturpar o que sabemos. Se ficamos em casa, ou se saímos de casa eu não sei, só sei confiar no que a Palavra de Deus nos fala do conhecimento divino de nossas razões:  “Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim: é sobremodo elevado, não o posso atingir.” (Psa 139:6)
Sobre a Igreja, a verdade de que ela não se trata do prédio e de que a casa de Deus somos nós e não o templo (Hb 3.1-6) é evidente diante da realidade de que continuamos a orar, ler a Palavra e a cantar. Cultuamos em nossos lares, testemunhamos nossa fé virtualmente, mas realmente, e edificamos uns aos outros com irmãos exercendo suas funções no desejo de auxiliar famílias e se relacionarem com Deus. Tudo isso evidencia que a Igreja é o corpo vivo de Cristo. Sabemos, todavia, que longe uns dos outros não é a mesma coisa, por isso, espero tenhamos aprendido o valor de nossos encontros. Excetuando aqueles irmãos que possuem impedimentos (idade, transporte, doenças etc.), sempre fiquei muito triste em ver membros escolhendo em que momento estarão reunidos com seus irmãos. No Dia do Senhor, escolhem culto, ou Escola Dominical, outros, aparecem apenas nos Grupos Pequenos, ou em atividades específicas. A impressão que tenho é que as pessoas querem sair de casa apenas para eventos, coisas elaboradas, ou mesmo atividades mais informais e intimista, tratando nossas reuniões como um cardápio. Já não apreciamos mais o simples encontro e proximidade com nossos irmãos. Já não valorizamos as oportunidades de orar, cantar e estudar a Palavra nas mais diferentes situações. Espero, portanto, que o afastamento tenha nos ensinado a valorizar desde os momentos mais simples, aos mais elaborados da vida da Igreja e passemos a aproveitar todas as oportunidades de estarmos juntos.
Vimos, assim, que essa situação pode ser difícil e ensinar ao mesmo tempo. Ter uma vida que desfruta da criação divina é uma vantagem quando o espaço é limitado. Brigar por causa de opiniões é inútil, pois, no fim, nossas razões não têm tanta razão quanto acreditamos – confie na Palavra de Deus. O afastamento alimenta uma saudade que pode nos ensinar o valor da união do Corpo de Cristo. Medite nessas coisas e busque tirar bom proveito dessa situação.


Comentários

  1. Muito bom texto. Para refletirmos mesmo.

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  2. Bom dia ! Sensatez e sábias palavras!
    Deus o abençoe !
    Sdds

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  3. Obrigado reverendo sábias palavras. Sinceramente eu até estou a gostar de congregar pela internet, pois o SENHOR Jesus me abriu os olhos espirituais ha pouquíssimo tempo lendo a bíblia mais pelo lado reformado e meu marido ainda não ele e legalista e religioso da assembleia de "Deus"

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  4. Ótimo texto. Vale muita reflexão. Pena que o povo que se diz conhecer o evangelho foge dele.

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