Trindade


A doutrina da trindade defende a existência de um único Deus, porém de forma plural. Isso significa que os trinitários creem que há apenas um único ser, mas este subsiste em três pessoas: Pai, Filho e Espírito.

Eles não são seres diferentes, mas pessoas. É justamente na dificuldade de se definir o que é uma pessoa e o que é personalidade que a doutrina oferece tanta dificuldade para ser entendida. Contudo, devido à algumas afirmações bíblica, não podemos dizer nada diferente de que Deus é um único ser, que possui três pessoas, com essência única, portanto, não há distinção de importância, mas de obras, ainda que algumas obras sejam descritas como sendo das três pessoas. Não há hierarquia, como se um fosse mais poderoso que o outro, mas a cada um é dada uma obra que indica certa primazia entre eles, mas não proveniente de valores, mas de obras.

A argumentação bíblica sobre esse assunto inicia logo no primeiro capítulo de Gênesis, em seu primeiro verso. Lá podemos ver que Deus é chamado de Elohim, que a união do nome ‘El com o sufixo plural ‘im. Isso seria um indicativo que o Criador não seria uma divindade simples, ainda que única, mas plural. No entanto, a terminação ‘im também pode indicar poder, ou seja, falar de alguém no plural pode ser uma forma de indicar que tal pessoa possui muito poder.

Contudo, ainda no primeiro capítulo de Gênesis, no verso 26, vemos Deus anunciando a criação do homem. Nesse verso vemos o Senhor falando: “façamos (na’ashé) o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”. A pergunta é: que é esse “nós” de “façamos” e “nossa”? Os anjos jamais foram descritos como tendo sido criados à imagem de Deus, portanto, não poderia ser com eles que Deus estaria dizendo “façamos à nossa imagem”. Nesse ponto, portanto, não encontramos nenhuma argumentação de cunho gramatical, como em relação à terminação ‘im, tão pouco vemos algum texto bíblico que apoie a ideia de que alguém mais foi criado à imagem de Deus, além do próprio homem.

Além disso, vemos o Antigo Testamento descrever tanto o Espírito quanto o Anjo do Senhor com características divinas. Alguns exemplos: Ex 31.3: o Espírito de Deus como fonte de conhecimento e capacidades; Nm 11.25, 24.2-5: o Espírito como sendo aquele que move os profetas a revelarem o conhecimento de Deus; em Juízes vemos o Espírito Santo ser aquele que conduzia e fazia com que todas as coisas acontecessem para a vitória de Israel; quem mais teria tanto poder para fazer com que tudo aconteça de bom para seu escolhido (Jefté, Gideão e outros)? Vemos no AT que o Espírito de Deus é aquele que conduz os profetas a profetizarem, ou seja, a revelarem Deus. Paulo aos Romanos deixa claro que isso ocorre devido o Espírito de Deus conhecer a vontade de Deus (8.26,27).

A outra personagem que vemos com características divinas no AT é o Anjo do SENHOR. Em Gn 16.10, vemos o Anjo prometer que iria, ele mesmo, multiplicar a descendência de Abrão, promessa essa que o próprio Senhor havia dado a Abrão no capítulo anterior. Isso significa que o Anjo do SENHOR estaria tendo poder não só de fazer acontecer, mas de prometer algo em seu próprio nome. As aparições do Anjo do SENHOR são sempre envoltas em uma atmosfera divina. Aparentemente, aqueles que se deparavam com ele tinham a noção de estarem diante da divindade, ao ponto de oferecerem louvor a ele (Nm 22.31; Jz 6.13: Gideão tratou o Anjo como seu senhor; outros exemplos podem ser encontrados por uma chave bíblica).

Disto podemos ver que a ação divina foi atribuída a três pessoas no AT: SENHOR (Iavé), Espírito e Anjo do Senhor. Tais ações foram desde o ato de criar, até mesmo ao ato de receber louvor. Nenhum anjo comum recebeu louvor daqueles que receberam suas mensagens. O fato é que somente três pessoas do AT o receberam e, interessantemente, no NT vemos três pessoas serem identificadas como divinas, isto é, com mesma essência. Para tanto, vejamos alguns exemplos.

Em João 1 vemos uma descrição da pessoa de Cristo. Ali o vemos como sendo um participante da criação, de fato, um criador. Isso combina bem com o que Deus havia dito: “façamos o homem à nossa imagem”. Mais do que simplesmente dizer que ele participou da criação, João diz que ele era Deus.

Ainda no Evangelho de João, Cristo disse que ele e o Pai são um (Jo 14). Depois, no capítulo 16, ele disse que enviaria outro consolador, usando o termo grego para “outro” que indica outro igual, da mesma espécie, ou mesmo essência: O Espírito Santo. Desse modo, vemos que o ensino do NT é bem compatível com o que o AT apresenta sobre Deus. Um ser que subsiste em três pessoas, ora chamada de SENHOR, Espírito de Deus e Anjo do Senhor; ora chamada de Pai, Filho e Espírito. O que nos leva a uma outra interessante constatação do NT, assim como no AT o Espírito era de Deus, no NT, segundo vemos em Romanos, por exemplo, o Espírito é de Cristo, ou seja, não há distinção.

Outras coisas poderiam ser ditas sobre a trindade, principalmente sobre o que se chama economia divina. Tal economia se refere a ação de nosso Deus e a forma como tal é atribuía à cada uma das pessoas da trindade. Um exemplo disso é que o Pai enviou o Filho; somente o Filho foi crucificado e, por fim, este enviou o Espírito. Tais nuances na obra divina nos levam a crer que as três pessoas de nosso Deus possuem ações distintas, mas o mesmo poder, honra, vontade e, portanto, essência.

Ao Deus trino, único ser, três pessoas, toda a glória.

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