Pastores constrangidos


“pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade;” (1Pe 5.2)

Pastorear não é tarefa fácil. Não só pelos defeitos dos outros, mas pelas limitações do próprio pastor. Contudo, não vejo os problemas da atuação pastoral de diversas pessoas que se dizem pastoras como uma simples questão de humanidade caída. Longe disso, tenho percebido o pastorado um campo muito fértil para pessoas que desejam exercer um domínio quase que total sobre seus fiéis.

Tristemente, o papel do pastor está sendo achincalhado em nossa sociedade, testemunha de tantos escândalos envolvendo ditos pastores. Refiro-me não só ao caso da igreja Universal, mas a tantos outros pastores que estão sendo investigados pelos mais diversos crimes – até mesmo pedofilia. O caso da IURD é antigo e é ofuscado pela briga Record x Globo e, sinceramente, para mim, não há inocentes nessa história; é cobra comendo cobra. Mas em tantos outros casos, nos quais vemos pastores envolvidos em pedofilia, prostituição, sequestro, roubo, assassinato; como podemos ver tantos “pastores” envolvido em ações tão criminosas?

Penso que o ministério pastoral já não é mais uma realidade em muitas denominações e cabeças por ai. Agora, o que temos, é a profissionalização do pastorado. Cursos de seminário, também chamado de casa de profetas, que tinham a missão de equipar pastores, chamados para pastorear o rebanho de Deus, agora são substituídos por aulas que ensinam a pessoa a ser pastor. Isso significa que não mais estamos preparando pastores, mas produzindo pastores. Pessoas que aprenderem maneirismos, jeitos e trejeitos para fazer com que todos encarem determinado aluno desses cursos como um pastor.

Pastores criminosos, pastores em produção, onde está a vontade de Deus no pastorado da igreja de Cristo? Essa é um pergunta de difícil resposta, pois, se olharmos para o que Pedro nos diz, veremos o quão pesada é a tarefa daquele que pastoreia. Mais do que isso, veremos muito poucos exemplos desse pastoreio hoje em dia. A primeira coisa que vemos no verso é que o pastor é pastor de modo espontâneo, não porque foi compungido a fazê-lo. Mas é necessário que entendamos que esse constrangimento que conduziria a alguém forçadamente ao pastorado não significa uma pessoa constrangendo a outra. Na verdade, diversas coisas pode constranger, ou forçar alguém a buscar o pastorado; é diante disso que Pedro acrescenta a segunda negação de seu texto: “nem por sórdida ganância”.

Perceba que a compulsão para o pastorado pode vir de um desejo que não tem qualquer relação com o pastorado, mas apenas de utilizá-lo como um meio para se alcançar o que se deseja. Observando a teologia de diversas igrejas percebemos que para os mais variados interesses existem as mais diferentes definições do pastorado. Para os pastores que desejam poder, vemos a teologia que os torna autoridade espiritual sobre a vida de suas ovelhas, sendo vedado a essas pessoas decisões que não passem pelo crivo do pastor. Um bom exemplo desse tipo de pensamento são as igrejas apostólicas.

É incrível que depois de 2000 anos de história vemos novamente a figura do apóstolo. E nesse tipo de pensamento “apostólico” ou você tem a cobertura apostólica ou você não está pronto para enfrentar satanás. As pessoas, então, se veem obrigadas a seguirem a cartilha e os programas impostos pela igreja: “corrente de oração da quinta-feira dos milagres”; “semana da benção conquistada na força de Jacó” (tome mais pancada no Anjo do Senhor). O poder exercido sobre as ovelhas dessas igrejas é tão grande que elas não questionam nem por um segundo a biblicidade de todas essas atrocidades engendradas para dissimular, convencer e controlar.

Mas se o poder não é o único objetivo que tem constrangido pessoas a se tornarem pastoras. A velha raiz de todos os males, o dinheiro, também faz com que muitos se tornem pastores. Seja para convencer pessoas a darem tudo que há em seus bolsos, seja pelo simples medo de se ficar desempregado e não poder pagar as contas, a ganância, ou o amor ao dinheiro que supera o amor a Deus, constrange muitos a se tornarem pastores. Fico impressionado com cristãos que atendem ao chamado de igrejas que pedem dízimos dos mais diferentes tipos; conheço pessoas que deixam mais de 60% do que ganham na igreja. Interessantemente a promessa de prosperidade só pode ser realmente verificada na vida daqueles que a pregam e recolhem o dízimo, mas dificilmente na vida dos fiéis. Além disso, mesmo quando o interesse de alguns pastores não seja o do enriquecimento, mas do simples salário, ai já vemos um constrangimento, ao invés da espontaneidade.

Poderíamos falar de muitos outros tipos de constrangimento que tem levado não vocacionados ao ministério da Palavra, mas esses são suficientes para que vejamos que não há Palavra nesses ministérios. Aquele evangelho de arrependimento e santificação foi abandonado pelo evangelho do arrependimento e auto-glorificação. Sim, com isso quero dizer que o ministério da Palavra não está sendo vituperado apenas por aqueles que se dizem pastores mas são, de fato, servos do mercenário. Crentes que não estão buscando a Deus verdadeiramente, mas a satisfação pessoal, alimentam o mercado do “pastorado por constrangimento”. Pois, se há alguém que pregue absurdos e consegue alcançar o que quer com esses absurdos, então há alguém que o ouça e o siga.

Vemos, portanto, que a ganância e o constrangimento não estão apenas de um lado, mas de ambos. Uma legião de gananciosos, que seguem um “estranhogelho” de milagres, prosperidade e “apostolicidade” sustentam uma legião de “pastores” gananciosos, constrangidos por seus desejos pecaminosos, ou por seus medos idólatras. Nesse caso, então, não só esses pastores não são pastores de fato, como também muitos nesses rebanhos não são rebanho de Deus, o que me tranquiliza, já que todos estão conseguindo o que desejam: dinheiro, poder, reconhecimento, terapia, esperança de uma vida com mais dinheiro ou satisfação pessoal e etc. O que me preocupa são os sinceramente enganados e a imagem do evangelho diante do mundo.

Infelizmente, levados pela multidão, ou por serem pecadores também e desejarem ardentemente o que é terreno e a satisfação pessoal, muitos verdadeiros cristãos são pastoreados por esses mercenários. É ai que lamento e oro a Deus para que faça sua Palavra falar mais alto em seus ouvidos, conduzindo-os aos verdadeiros pastores do rebanho de Deus, que espontaneamente desejam ensinar-lhes o caminho do evangelho.

Comentários

  1. É horrível a ignorância científica de 99,9% do povo brasileiro...
    Tanta gente que ainda acredita em um tal de Nibiru,nesses profetazinhos drogados do apocalipse,nesses PASTORES MALUCOS DE MEIA TIGELA...
    Esse povo só tem m#%&@ na cabeça...
    O mundo precisa de MAIS CIÊNCIA e MENOS RELIGIÃO...
    Porque esse negócio de religião é apenas IRRACIONALIDADE e ALIENAÇÃO (Edir Macedo que o diga).
    Se não houvessem homens dispostos a buscar o saber e a realidade a humanidade estaria perdida.

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  2. Caro anônimo,

    acho interessante você falar em ciência e se colocar anônimo em seu comentário. Mas, deixando esse fato de lado, vamos pensar em suas palavras.

    Primeiro, concordo que o evangelicalismo brasileiro é isso ai que você falou. A coisa está realmente feia, com muitos pastores, "profetas" e coisa que o valha, fazendo absurdos. Realmente, um pouco mais de saber científico (não seria isso redundância?) ajudaria nosso povo ignorante a não cair na conversa desses péssimos homens e mulheres que veem tudo em sifrões. Por outro lado, não posso concordar que mais ciência e menos religião seja o caminho.

    Primeiro porque ciência é o saber, e o saber não está restrito àquilo que é experimentável, ou laboratoricamente provável.

    Segundo, saber tem a ver com verdade, e verdade, como pode ser visto com a não morte da religião, tão anunciada no fim do século XVIII e início do XIX, não tem a ver somente com ciência, que não conseguiu sustentar o status de baluarte da verdade. Tudo que se conseguiu foi provar que ela tem razão em muitas coisas.

    Terceiro, vamos falar da irracionalidade. Bom, quando avaliamos as bases epistemológicas da ciência, percebemos que seu critério de verdade é tão irracional quanto o religioso. Observe que as verdade científicas são estabelecidas através de outras verdades anteriormente verificadas, ou seja, toda verdade verificada está apoiada em verdades anteriormente verificadas. Seguindo do topo da pirâmide à base, chegaremos às verdade básicas, ou seja, verdades não verificadas, mas que se admite serem a base de todo o conhecimento. Ai, meu caro anônimo, é que vemos a irracionalidade científica: "Quem disse que tais verdades básicas, são realmente básicas?". É tudo uma questão empírica, sem possibilidade de verificação, ou seja, FÉ! Partindo de verdades que simples se admitem ser básicas, mas sem a menor comprovação, baseia-se todo um sistema de pensamento, que desconsidera completamente outras forma de verdade, por pura convenção. Isso significa que não há base científica para as verdades básicas da ciência. Enfim, irracionalidade por irracionalidade, fico com minha fé em Cristo, que me permite aceitar a verdade científica como expressão de sua revelação.

    Por último, QUEM É NIBIRU?

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