Verdade e liberdade


“Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (João 8.32)

Nosso Senhor mostrou a relação intrínseca entre dois assuntos: verdade e liberdade. Mais do que isso, ele mostrou a ligação entre ser discípulo, permanecer em sua palavra e conhecer a verdade e ter liberdade. Aliás, um discurso muito atraente ao ser humano, sempre buscando seu sonho de liberdade, seja lá do que for, ainda mais para aquele tempo, quando os judeus se encontravam, mais uma vez, sob o domínio de outra nação.

Tristemente, a nação de Israel tinha de ser constantemente disciplinada. Sua infidelidade em seguir o pacto estabelecido por Deus os conduzia ao cativeiro, ou a sentir a mão de Deus os disciplinando. Interessantemente, quando mais o povo buscava a ilusão da autonomia, isso é, a andar conforme seus próprios caminhos, pior era a prisão que eles enfrentavam.

No tempo de Jesus, após o período interbíblico, durante o qual diversos grupos apareceram e se desviaram da lei de Deus, mais uma vez o sonho judaico era o da liberdade; e mais uma vez esse sonho era adiado por causa do desvio dos mandamentos de Deus. Nesse contexto, nosso Senhor aparece e evidencia que as expectativas judaicas demonstravam a profundidade de tal desvio.

Israel esperava um messias que os libertasse da nação pagã, mas eles não sabiam que esse não era o pior de seus cárceres. Deixando de lado o verdadeiro significado da lei de Deus, e a realidade caída do homem, os judeus não entendiam que sua pior prisão era a do pecado, que constantemente os conduzia para longe do pacto. Isso é tão verdade, que o Messias tão esperado veio, e poucos o reconheceram. A vinda de João Batista, cumprindo a promessa de um profeta que prepararia o caminho daquele que libertaria o povo, servia de peso para os incrédulos, pois esses estariam sendo avisados da chegada iminente do Messias.

Ocupados demais com a busca pela liberdade política, Israel não se apercebeu que se tornava cada vez mais cativo dos efeitos do pecado e que seu libertador estava ali, diante de seus olhos. Tais efeitos se tornavam ainda mais fortes com o crescente legalismo e o sentimento de justiça própria que só conseguiam ver um Messias político, pronto a dar a Israel a glória diante dos homens.

O povo não se apercebeu que o pecado era seu grande algoz, e não Roma; que a cegueira era sua deficiência, e não a liberdade. Jesus veio mostrar nosso verdadeiro inimigo e opressor. Ele avultou a natureza de nossas cadeias e mostrou que sem a busca pelos caminhos do Senhor, o sonho de liberdade nunca se realizaria. De fato, nas palavras de Cristo, vemos que não adianta buscar a liberdade política, se não se tem a liberdade da escravidão do pecado. Em verdade, em verdade, isso não é ser livre.

Livre, segundo o Senhor, é aquele que conhece a verdade. Para conhecer a verdade é necessário ser seu discípulo, e ser seu discípulo é andar em seus caminhos. Indo um pouco mais fundo no conceito de verdade em João, percebemos que a verdade não se trata de um conjunto de axiomas, conceitos ou princípios, mas de uma pessoa. É bem clara a definição de verdade nesse evangelho: Jesus!

Diante disso, conhecer a verdade não é uma questão de investigação e conclusão, mas de relacionamento. Relacionar-se com Cristo é conhecer a verdade, o que nos liberta do jugo do pecado; nos torna conhecedores de que seu caminho é de vida, e que viver é andar em seus mandamentos. Isso significa que ser liberto é viver um relacionamento pactual com Cristo, o que nos faz viver por seus méritos.

Liberdade não é fazer o que se deseja, mas ter o desejo liberto do pecado. Ser livre não é ter a possibilidade de se dar vazão à todas as vontades, mas de poder resistir ao constante impulso pecaminoso da vontade, que nos conduz à escolhas que nos tornam menos humanos, ou seja, menos à imagem de Deus. Desta forma, estaremos livres da justiça própria; da arrogância daqueles que pensam que podem barganhar com Deus e oferecerem suas obras podres como meio de alcançar sua salvação. Em Cristo somos verdadeiramente livres, pois estaremos diante de Deus cobertos pela perfeita obra; pela perfeita obediência; pelo discipulado que começa quando reconhecermos o chamado de nosso bom Pastor: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei…(Mt 11.28) Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo.” (Mt 25.34).

Infelizmente, o sonho de liberdade de muitos tem sido a prisão da autonomia. Muitos estão investindo pouco em seu relacionamento com a Verdade, Cristo, deixando de lado seus mandamentos. Ao invés de, conhecerem a ligação entre liberdade e verdade, estão sofrendo os efeitos do binômio: mentira e prisão. Para piorar, a doce ilusão da liberdade sem Cristo convence a todos esses que verdadeira liberdade está ligada à satisfação pessoal. O problema é que as pessoas esquecem que nossos desejos, vontades, volições, anseios, raciocínios, tudo o que somos, está aprisionado pelo pecado, por isso, nosso Senhor disse: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (João 8.36)

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