A Verdade e o politicamente correto

Dois casos nesses últimos dias me chamaram muito a atenção. O primeiro foi o Senador Sarney dizendo que o impeachment foi um acidente de percurso sem importância. Não ouvi essa crítica, mas o que ele disse foi que o um dos maiores atos de liberdade e demonstração de cidadania brasileira não era importante. Isto é, o que o povo faz ou quer não tem importância, o que importa é o que “nós, parlamentares” fazemos; o que não os agrada é só manter de fora.

O segundo “causo”, foi em minha visita às instalações da SBB. Lá ouvi que a questão do cânon bíblico é só um problema de escolha entre o reduzido e o ampliado. O que é usado pelos protestantes é o reduzido e, pelos católicos, o ampliado, com o acréscimo dos livros apócrifos (Macabeus, Tobias, Baruc, Judite, Sabedoria, Eclesiástico). Além disso, ouvi que a única diferença entre essas correntes cristãs é a interpretação de Romanos.

Em ambos os casos vejo uma tentativa de se agir de modo a evitar conflitos, escolhendo-se o caminho do politicamente correto em detrimento à verdade. Sarney tentou evitar conflitos internos em sua vida política, provavelmente não querendo perder um possível aliado – Collor. No segundo causo, a SBB não só é apoiada como tem por cliente a Igreja Católica. Discordar de seu cânon, certamente não seria uma ação comercial das mais inteligentes.

Perceba que, nos dois casos, adaptações e discursos mal elaborados são utilizados para se manter as aparências e as conexões políticas e comerciais. Na boca desses, uma ação popular – tá certo que em muito impulsionada pela mídia – que leva a saída de um presidente eleito, torna-se um pequeno acidente; diferenças teológicas profundas e fundamentais quanto à soteriologia, escatologia, eclesiologia, bibliologia e quantos logias a mais, vira um simples caso de escolha entre ampliado e reduzido e diferenças sobre o entendimento de um único livro da Bíblia.

A arma do politicamente correto é o reducionismo. O intuito é tirar peso das questões e formulá-las em axiomas ínfimos e aparentemente inofensivos, nos levando a crer que nada de fundamental está sendo ameaçado. Esse tipo de ação conta com a preguiça do ouvinte, que não irá desenvolver as ideias a fim de confirmá-las ou rebatê-las. Isso é um perigo, pois a verdade não é uma questão simples, tendo em vista que ela une diversos, distintos e inúmeros aspectos da vida.

Além disso, a intenção é aparentar paz, amor, enfim, ter uma postura amiga, que rejeita a figura feia do camarada que gosta de arrumar problemas e discussões. Em nossos dias, aquele que cede ganha a simpatia, enquanto o que questiona e insiste em debater é tido por encrenqueiro. Contudo, são os encrenqueiros que descobrem o que há por debaixo da postura amiga e das aparentes insignificâncias das declarações reducionistas dos politicamente corretos.

Nosso dever como servos da verdade – lembrando que a verdade é Jesus – é o de buscá-la em cada questão da vida. Desde nosso relacionamento social e político, até nos debates teológicos. Será realmente que o impeachment de um homem que se envolveu em desvio de dinheiro público, num caso que contemplou assassinatos, tráfico de influência de todos os lados é um simples acidente? Ou que a Reforma protestante foi uma simples questão exegética quanto a Romanos? Duvido muito. Em ambos os casos a verdade é muito maior e profunda.

Sarney, como político que é, viu que deveria voltar atrás. No caso da SBB, penso que dificilmente isso aconteceria, já que houve comprometimento da visão histórica e hermenêutica da coisa. Sarney quer mais é manter sua imagem. Infelizmente, a SBB – penso eu – quer manter o cliente e está mordida pelo bichinho do ecumenismo. Quando este chega, tudo vai pelos ares: teologia, Bíblia, verdade e etc...

Seja um inquiridor. Queira sempre ir mais a fundo e não se deixe levar pelo politicamente correto, pois, via de regra, isso exige que você abra mão de algo fundamental para sua fé ou ética. Entre Sarneys e SBBs, todos se utilizam dos mesmos mecanismos para se articularem de um lado a outro. Para mim, o único lado para o qual desejo ir é o da verdade, do evangelho, de Jesus. Não se contente com respostas simplistas, reducionistas e rápidas demais. Pergunte, inquira, questione, não deixa pontas soltas.

Comentários

  1. Cara, muito bom. Excelente reflexão. Como diz a múaica: "paz sem voz não é paz, é medo".
    Vai para o boletim daqui.. rs

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  2. Jr,

    à vontade. É sempre uma honra ter meus textos em seu seleto boletim.

    Abraço e beijos nas duas mulheres mais importantes de sua vida: Poli e Nandinha.

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  3. Posso fazer de suas palavras em estudo? Meu amado Deus o uso para abrir os de muitos! Inclusive os meus! Sua palavras foram todas colacadas no tempo certo e posição certa!
    Que Deus te abençoi e te encha de sabedoria genuina!

    Abraço, querido de Deus!

    Franciê Rodrigues Lopes.

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  4. Franciê,

    muito obrigado por suas palavras. Fico feliz que meu texto tenha ajudado. Espero poder fazer mais.

    Bênçãos naquele que é o caminho, a VERDADE e a vida.

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