Virada de ano, onde está sua esperança?

Virada de ano é aquele tempo de promessas. Olhamos para o que vem pela frente e buscamos ver onde nossas vidas precisam de uma mudança e fazemos promessas de cuidar dessas áreas. O fato é que esse momento de 00h de 31/12 para 01/01 tem um efeito quase místico sobre nós, nos levando a imaginar que os dias que se seguem serão diferentes, para pior, ou melhor. Os mais otimistas sempre buscam razões ou fundamentos para sua esperança e vislumbram um ano novo bom, com mudanças e progressos na vida pessoal, profissional e mesmo social.

Nessa busca por coisas que fundamentem a esperança, muitos se apóiam em seus empregos, relacionamentos pessoais, em seus bens, nas pessoas que conhecem, em sua vida acadêmica e até em suas capacidades, ou mesmo numa ideia que se pense ser brilhante ao ponto de mudar suas vidas. Contudo, penso ser este o caminho para um esperança não só materialista, ou mesmo mundana, mas fraca e pouco confiável.

Por melhores que sejam essas coisas e por mais importantes que possam parecer, todas elas tem em comum o fato de serem facilmente derrubadas. O profeta Jeremias presenciou muito bem o que digo. Após anos de pregação ao povo de Deus, ele viu todas as suas profecias de destruição e morte se cumprirem. Como havia sido prometido, no caso do povo não se arrepender, o Senhor enviou a destruição do norte, Babilônia, que arrasaria as cidades, deixando um rastro de destruição, morte e aprisionamento.

Com o cumprimento da promessa, nem mesmo Jeremias foi economizado. Ele sofreu junto com o povo rebelde as dores da ira de Deus, sendo perseguido, preso, deportado e tendo visto toda a destruição e morte de seu povo. Seus sentimentos e impressões podem ser vistos em suas Lamentações.

Apesar de ser um livro que fala de grande sofrimento e da consciência de que este sofrimento vem das mãos do Senhor, Lamentações é um texto que nos remete a Deus e a confiar em sua misericórdia. No capítulo 3, vemos um dos trechos mais famosos deste livro: “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança” (3.21) O que é impressionante nesse trecho é sua resposta.

Mesmo depois de ver toda destruição trazida pelas mãos de Deus. Mesmo depois de ver a mão do Senhor esmigalhar seus ossos, quebrar seus dentes e ver sua esperança no Senhor perecer, o profeta se lembra, mais uma vez, do que lhe traz esperança e, surpreendentemente tal coisa está no Senhor: sua misericórdia.

Mesmo com todo o sofrimento diante de seus olhos e em sua própria pele, Jeremias percebeu que Deus foi é misericordioso. Com tanto pecado e rebelião do povo contra seu Criador, que tanto já o havia abençoado, este resolve não aniquilá-lo, mas “apenas” moê-lo. A coisa foi tão feia, que os vivos invejaram os mortos, mas, ainda assim, Jeremias entendeu a misericórdia de Deus.

Diante de tanto pecado, a mão do Senhor, percebeu o profeta, tinha de ter sido ainda mais dura. Diante de tanta teimosia e ofensa, o sofrimento tinha de ter sido pior. No entanto, o Pai celestial decidiu “aliviar” (lembrando que as aliviadas de Deus tem em vista o que está em Rm 3.23-26) e pesar menos a mão. Foi esta consciência da profundidade da ofensa cometida e de uma visão precisa dos fatos que levou Jeremias – é claro, pela graça de Deus – a entender que ainda havia motivo para se ter esperança no Senhor. Neste caminho, nosso irmão viu muitos detalhes na misericórdia de Deus, mas eu quero ressaltar apenas alguns, para que você deposite sua esperança em 2011 nas misericórdias de Deus.

O primeiro aspecto que devemos vislumbrar sobre a misericórdia de Deus é que ela não tem fim. Não importa o mover do espaço e tempo, a misericórdia do Senhor estará lá. O povo passou séculos se desviando e rejeitando o chamado de Deus, mas, mesmo na hora de pesar a mão, o Senhor ainda tinha misericórdia para com o povo. Todo tipo de coisa que temos se acaba e junto se acaba nossa esperança, se a apoiarmos nessas coisas passageiras. Sejam relacionamento, bens, diplomas, tudo tem seu limite, seu fim, mas não as misericórdias de Deus.

O segundo aspecto trabalhado por Jeremias, foi o de que a misericórdia de Deus se renova a cada manhã. Quantas vezes você não dormiu com raiva de alguém e acordou ainda com raiva. O Senhor não nos trata conforme nossas transgressões, de modo que sua misericórdia não muda, não se altera, não envelhece ou se enfraquece. Ela sempre é a mesma, e sempre é nova a cada manhã. Diferente de nós, que, via de regra, precisamos de um tempinho para agir com misericórdia, o Senhor sempre está pronto a ser misericordioso e sempre da mesma forma como foi em outros tempo. A esperança do profeta estava apoiada nisto, no fato de que nenhum dos pecados de seu povo foi o suficiente para abalar a ação misericordiosa de Deus.

O último aspecto que desejo observar no texto de Lamentações 3 é a grande fidelidade de Deus. A esperança de Jeremias se firmava na misericórdia de seu Criador, pois ele confiava na fidelidade do Senhor. Deus é fiel e isto não tem a ver conosco, mas com sua glória. Ele não deseja ser visto como mentiroso, por isso, quando afirma e promete um caminho de restauração, ele cumpre. Essa era a certeza do profeta, que tanto falou de restauração, apesar de sua dura mensagem. Perceba que apesar de toda dor e sofrimento, Jeremias tinha diante de si a certeza de que aquele prometera restauração, era fiel para cumprir o que prometera.

Não podemos colocar promessas na boca de Deus, mas quando vemos as bases de nossa esperança sendo demolidas pela ação do tempo, do pecado e dos ataques de nossos inimigos, podemos sempre olhar para misericórdia de Deus. Podemos confiar que ele irá agir em nossas vidas, pois ele o prometeu. Por mais que os pilares de nosso mundo caiam, podemos pautar nossa vida e esperança na fé e ter um sustentáculo eterno e seguro.

Não confio em 2011, em Dilma, Alckimin, na economia, em meu preparo acadêmico, em meu casamento, em minha família; minha esperança está depositada nas misericórdias de Deus, que são suficientes para mim. De fato, elas são a provedora de todas as outras coisas. Quando tudo nos falta, percebemos que tudo que temos é a misericórdia de Deus, pois, mesmo quando temos ouro e bens, estes vieram das misericordiosas mãos do Senhor. Focados no ouro, perdemos de vista a misericórdia, que foi o erro do povo; focado na misericórdia, pouco nos importamos com o ouro, ainda que desfrutemos dele com alegria diante do Senhor.

Tenha esperança para 2011, mas que seja sempre fundamentada naquilo que realmente resiste aos Réveillons da vida, sem sofrer sombra de mudanças.

Comentários

  1. Oi, Ricardo!
    Uma vez vc pregou falando sobre a esperança que temos que ter no Senhor, na vida que teremos com Ele na eternidade. Por muitas vezes, quando eu estou angustiada, ansiosa, eu me pego lembrando dessas palavras, nunca esqueci. Muito bom saber que temos um Deus que está acima de todas as coisas desse mundo.

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  2. Mari,

    Que bom te ler! Saudades de vocês. Como vai a vida de carioca? Hehe. Que bom também saber que alguém prestava atenção em minhas pregações....rsrs. Fico feliz que ela ainda te ajude. De fato, olhar para os fundamentos deste tempo é desesperador. Precisamos mirar nossos olhos para o que realmente pode nos trazer esperança; uma que seja eterna e verdadeira.

    Continue assim. Bênçãos e abraços para vocês.

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