Um ataque nada surpresa ao comboio de ajuda humanitária

O ataque das tropas israelenses ao comboio de ajuda humanitária provindo da Turquia, nos deixa bem claro uma coisa: a paz naquela região é impossível. Sou cético quanto à essa possibilidade, pois desde que sou criança ouço as notícias sobre as negociações de paz naquela região e nunca há um progresso realmente animador. As questões envolvidas naquele confronto são tão diversas, que penso que nenhum tipo de negociação irá satisfazer a ambos os lados ao ponto de trazer paz.

A questão da terra é o ponto inicial. Devemos nos lembrar que todos os povos que ali estão se sentem no direito de possuir aquela terra. Todos se dizem filhos de Abrão, portanto, herdeiros da promessa de Deus. Nisso entendemos que o ponto não é apenas territorial, mas religioso. Ainda que tenham a mesma origem no patriarca bíblico, ou alcorânico, são povos que se odeiam profundamente. Cada um tem sua interpretação religiosa, o que os leva a encarar um ao outro como inimigos no cumprimento das promessas de Deus.

Mas, somando a esse último ponto, devemos nos lembrar de que muitos que estão sendo expulsos de seus lares e tendo sua liberdade de ir e vir limitada, estão lá há gerações. Como um migrante, saído de Brasília para São Paulo, sei o que é amar a terra em que se nasceu. Quando se está nela pouco pensamos sobre isso, mas quando alguém a toma de você, a cerca e lhe impede de aproveitar o lugar que você sempre aproveitou, certamente seu sofrimento poderá ser tão grande, a ponto de lutar por seus direitos. Israel invadiu a faixa de Gaza e tirou a liberdade de muitos árabes, ou islâmicos, de permanecerem em seus lares. Separou família, tirou o sustento e o ciclo social de muitas pessoas. É claro que como cristão creio que os Judeus são o povo de Deus e que aquela terra foi prometida a eles. Mas, como cristão, calvinista-amilenista, também creio que Cristo tornou a posse daquela terra uma razão inútil. Tudo não passou de um símbolo da Nova Jerusalém – essa, sim, possuiremos sem embaraços.

Não posso encarar esse frenesi de alguns cristãos pela restauração territorial de Israel como um entendimento bíblico correto. Não sou pré-histórico (uma gozação com os pré-milenistas históricos), não creio que a restauração do Israel de Deus seja um ponto ligado àquele povo, mas ao que está em Gálatas e em Romanos sobre o verdadeiro israelita, isto é, aquele que crê no Messias, como Abrão creu, ou seja, em Cristo (pois, para os cristãos, esse é o Messias esperado no AT). Isso significa que a restauração de Israel tem que ver com o próprio progresso da Igreja, e não com a posse daquela terra.

Além disso, temos a questão econômica. Podemos pensar em petróleo, mas manter a guerra naquela região é uma fonte de renda muito maior. Mais do que explorar as riquezas naturais daquela região, explorar o ódio entre aqueles povos é algum muito rentável. Seria de uma ingenuidade muito grande crer que aquele que vende arma para um lado, não o faria para o outro. Que aquele que inventa novas formas de matar só as apresentará para um lado. Vender a morte é algo tão lucrativo, que eu não duvidaria de muitas sabotagens nesses anos de tentativa de se estabelecer a paz. Isso significa que, além do ódio entre aqueles povos (lembrando que nem todos que lá estão sentem isso, mas não são esses que ocupam o poder), há o interesse econômico na guerra entre eles, e como diz o “velho deitado”: “pra baixo, todo santo ajuda”.

Você pode até pensar: - Lá vem aquele pessimista de novo! – mas, com um líder que se sente provocado por um comboio de ajuda humanitária, não é perigoso até que ele ordene um ataque, por ter se sujado com a tinta da caneta da assinatura de mais um dos bilhões de acordos de paz? Ora, como estabelecer a paz quando o espírito é de não ceder em nada? Quando a motivação é a de mostrar força todo o tempo? Quando abrir mão significa liberar uma granada? Pessimista ou não, você terá de concordar que a faixa de Gaza é uma região onde a paz não só é um substantivo abstrato, mas também lendário, que só existe no imaginário coletivo de uns poucos.

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