A Consistência da Soberania Divina e da Responsabilidade Humana
(The Consistency of Divine Sovereignty and
Human Accountability: por Matt Perman – Tradução: Ricardo Moura Lopes Coelho)
No último artigo, nós vimos
como pode ser que Deus de toda eternidade ordenou “tudo quanto acontece” e
ainda assim não é “o autor do pecado” (Confissão de Fé de Westminster III.I).
Tendo mostrado isso, o assunto que nós iremos focar nesse artigo é como o
controle de Deus sobre todas as coisas não destrói a responsabilidade humana.
Como a Confissão de Fé de Westminster prossegue dizendo, a soberania de Deus
não violenta a “vontade da criatura”.
Muitas coisas
que nós dizemos no último artigo lançam luz nesse assunto da responsabilidade
humana sob a providência de Deus. Por exemplo, o fato que o pecado não é um
resultado de Deus injetar o mal no coração de alguns, mas mais um problema dele
conter sua graça que impediria a pessoa de pecar, é uma coisa que preserva
nossa responsabilidade moral e torna claro que Deus não o autor do pecado. Nós
iremos, agora, olhar mais de perto como Deus determina a vontade, que irá
primariamente mostrar por que sua soberania não destrói a responsabilidade
moral, e secundariamente dar adiante prova do fato que Deus não é o autor do pecado.
Para ser
específico, esta análise irá responder duas perguntas para nós. Primeira, como
nós podemos sustentar a responsabilidade por nossas ações pecaminosas quando
elas são pré-determinadas por Deus? Segunda, como podem nossas escolhas boas
serem genuínas quando elas todas foram pré-determinadas e trazidas a tona por
Deus?
O Ensino das Escrituras
A primeira
coisa que eu gostaria de ressaltar é que as Escrituras vêem a soberania divina
como consistente com a responsabilidade moral. Elas ensinam tanto que nós somos
responsáveis por nossos atos e que Deus, no final das contas, determina nossas
escolhas. Como nós iremos ver em breve, isso nos dá um princípio que é
essencial para resolver o mistério.
Em Êxodo 7.2-4 Deus diz a Moisés: “2 Tu falarás tudo
o que eu te ordenar; e Arão, teu irmão, falará a Faraó, para que deixe ir da
sua terra os filhos de Israel. 3 Eu, porém, endurecerei o coração de Faraó e
multiplicarei na terra do Egito os meus sinais e as minhas maravilhas. 4 Faraó
não vos ouvirá; e eu porei a mão sobre o Egito e farei sair as minhas hostes, o
meu povo, os filhos de Israel, da terra do Egito, com grandes manifestações de
julgamento.” Esta é uma passagem incrível! No verso 2, Deus diz que Moisés e
Arão estão, na autoridade de Deus, para comandar ao faraó que deixe Israel ir.
Mas no verso 3, Deus diz que ele irá endurecer o coração do faraó tanto que ele
não deixasse Israel ir. No verso 4, nós lemos que Deus irá julgar o faraó e o
Egito por sua desobediência. Desta forma, as Escrituras não vêem a soberania de
Deus sobre o faraó ao endurecer seu coração como destruição da responsabilidade
moral do faraó, por Deus julgar o faraó por sua desobediência. Nós sabemos que
o faraó merecia este julgamento por que todos os julgamentos e caminhos de Deus
são justos: “todos os seus caminhos são justos; “todos os seus caminhos são
juízo; Deus é fidelidade, e não há nele injustiça; é justo e reto”
(Deuteronômio 32.4). de fato, mais tarde na história, o próprio faraó
reconheceu sua culpa: “Esta vez pequei; o SENHOR é justo, porém eu e o meu povo
somos ímpios” (Êxodo 9.27).
Igualmente, no livro de Atos nós lemos que o ato
pecaminoso dos judeus, gentios, Heródoto e Pôncio Pilatos que resultaram na
morte de cruz de Cristo, foram todos predestinados por Deus (Atos 4.28).
Todavia, eles foram considerados moralmente culpados por esses pecados (2.23;
7.52). Jesus parece afirmar no mesmo sentido que a soberania de Deus sobre sua
traição e a culpa moral daquele que o traiu: “Porque o Filho do Homem, na
verdade, vai segundo o que está determinado, mas ai daquele por intermédio de
quem ele está sendo traído!” (Lucas 22.22). Em 2 Tessalonicensses 2.9-12 nós
lemos de um tempo quando, para aqueles que rejeitaram o Evangelho, “Deus lhes
manda a operação do erro, para darem crédito à mentira, a fim de serem julgados
todos quantos não deram crédito à verdade; antes, pelo contrário, deleitaram-se
com a injustiça”. Muitas outras instâncias poderiam ser dadas, mas esta é
suficiente para mostrar que as Escrituras crêem que a soberania de Deus é
consistente com o fato que ele nos atribui toda responsabilidade por nossos
pecados.
As Escrituras também crêem que nossas escolhas boas
são genuínas, tanto quanto elas são trazidas por Deus. Em 2 Coríntios 8.16,
Paulo diz que o amor e a solicitude de Titus pelos corintos foram colocadas por
Deus em seu coração. Desse modo, Paulo considera a solicitude de Tito como
genuína, dizendo “partiu voluntariamente para vós outros” (v.17). Ezequiel
33.27 ensina que a obediência dos cristãos é causada pelo Espírito de Deus:
“Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos …”.
Assim, quem ousaria dizer que sua obediência não é genuína! Igualmente, da fé é
dita ser dada a nós vinda de Deus (Filipenses 1.29), ainda assim nossa fé
agrada a Deus (Hebreus 11.6).
As Escrituras parecem claramente negar a crença comum
que humanos são a causa última que determina suas próprias escolhas
(“livre-arbítrio”). Jeremías 10.23 diz: “Eu sei, ó SENHOR, que não cabe ao
homem determinar o seu caminho, nem ao que caminha o dirigir os seus passos”.
De tudo isso, devemos concluir que de acordo com a
Escritura, o controle de Deus não destrói a responsabilidade moral em
considerar nossos atos pecaminosos, e nem destrói a genuinidade das boas
escolhas que os cristãos fazem. Desde que as Escrituras ensinam isso, nós
deveremos acreditar nisso, mesmo que não entendamos como isso se encaixa na
lógica. Em outras palavras, nós deveremos acreditar que a soberania de Deus é
consistente com nossa ação moral por que Deus diz que isso é assim, e Deus
sempre fala a verdade.
Existem aqueles que param após este ponto, dizendo
que o modo para ser entendido de como essas coisas são consistentes é um
mistério. Isso é perfeitamente normal. Parece-me, porém, que a simples reflexão
revela que as Escrituras resolvem muito desse problema. Como isso? Isso me
parece dessa forma: o fato que as Escrituras ensinam que nós somos
responsabilizados pelo que Deus, em última estância causa em nós, ensina que livre-arbítrio
não é um pré-requisito para responsabilidade moral. Em outras palavras,
você não precisa ter o poder de autodeterminação como regra para ter
responsabilidade por suas escolhas.
Você vê, a razão que podemos pensar que a relação
entre soberania divina e responsabilidade humana é um mistério é por causa de
uma fixa pressuposição que temos: que responsabilidade moral requer que nós
tenhamos autodeterminação – que nós tenhamos a palavra final sobre o que irá
acontecer. Mas, desde que as Escrituras mostram que Deus em última estância determina
o que irá acontecer, e ainda assim nós temos responsabilidade por nossas ações,
nós devemos concluir que a crença comum que responsabilidade moral requer
livre-arbítrio é falsa. Porém, responsabilidade moral é estabelecida por alguma
outra coisa vinda da liberdade de determinação de Deus.
E Sobre os Versos de “Escolha”?
Antes de olhar o que nos faz ter responsabilidade por
nossas escolhas, há uma coisa que é importante para entender neste ponto. Muito
freqüentemente, pessoas tentam refutar a soberania divina mostrando várias
passagens onde humanos são ditos fazerem escolhas. O argumento é como este:
“Olhe para todos esses versos que dizem que fazemos escolhas. Por exemplo, João
3.36 diz que quem quer que acredite Cristo irá ter vida eterna. Isso significa
que Deus deu-nos o poder de decisão última sobre o que irá acontecer. Ele não
controla todas as cosias por que ele deixou muitas coisas sobre nós”.
Mas esse argumento lê de mais sobre esses textos.
Aqueles que acreditam no controle de Deus sobre todas as coisas reconhecem que
nós fazemos escolhas. Eu repito: humanos fazem escolhas. Esse não é o
assunto que é debatido. O assunto é esse: Por que nós fazemos as
escolhas que fazemos? Como nós viemos a fazer nossas escolhas? É Deus,
talvez, aquele quem em última instância causa-nos a escolha do que fazemos? As
muitas passagens na Bíblia onde nos é dito escolher certas coisas não
interessam a esse assunto, por elas não dizerem como é que nós fazemos as
escolhas que fazemos. Tudo o que eles dizem é que fazemos escolhas. Com isso,
predestinação concorda. Mas os textos não dizem que nós temos autodeterminação.
Eles não lidam com o assunto de se Deus é ou não a causa última atrás de nossas
escolhas. Para esse assunto, nós devemos nos voltar para outros textos das
Escrituras, que nós vimos que claramente ensinam o controle de Deus sobre todas
as coisas. Assim, nós devemos concluir que humanos fazem, realmente, genuínas
escolhas. Mas Deus é a causa última que determina o que nós iremos escolher.
Com esse entendimento, nós iremos agora examinar a
visão chamada compatibilismo, que se esforça em explicar como a
soberania divina é consistente com a responsabilidade humana. Talvez o melhor
defensor desta visão, que largamente influenciou este artigo, é o trabalho de
Jonathan Edwards chamado On the Freedom of the Will (Na liberdade da
vontade).
Depois de dada evidência para o compatibilismo e
mostrar como é consistente com o senso comum (e, como nós vimos acima, que isso
é assumido pelas Escrituras), nós iremos, então, ver como a visão oposta da
liberdade, chamada Arminianismo (que acredita que os humanos têm poder de
autodeterminação), é contraditória e impossível.
Tudo que Acontece tem uma Causa
Uma causa é
uma coisa que faz algo acontecer do jeito que é. X é a causa de Y se X é a
razão de Y acontecer. Além disso, causas são necessariamente conectadas aos
seus efeitos. Em outras palavras, se X faz certo que Y irá ocorrer, X é dito
ser a causa de Y. Se a ocorrência de X não faz certo a ocorrência de Y, nós não
dizemos que X causa Y. Particularmente, nós poderíamos meramente dizer que X
faz Y possível.
Nós todos
sabemos que tudo que acontece tem uma causa. Nós vivemos vidas baseadas sobre
esta suposição, e sem essa o mundo poderia não fazer sentido. Se seu carro não
quer ligar, você tenta encontrar o por que. Se você fica extremamente doente,
você vai ao médico para encontrar o que está causando sua enfermidade. Ninguém
espera um tigre enfurecido vir à existência no meio da sala por nenhuma razão.
Isso é absolutamente oposto ao senso comum, pensar que algo pode vir a ser sem
alguma causa por de trás disto.
Outro bom
argumento é que “se um acontecimento não tem causa, então este pode ter sido
diferente na forma que ele aconteceu, mesmo se tudo anterior a ele era
exatamente o mesmo. Desde que a observação mostra que não importa o que seja há
formas diferentes no modo como as coisas habitualmente acontecem, há também
diferenças nas condições primárias, nós podemos concluir que tudo que acontece
tem causas”.
Todas as Nossas Escolhas têm uma Causa – Isso é, Foram Feitas por Alguma
Razão
Se todas as
coisas têm uma causa, então está claro que nossas escolhas devem ter causas
também. Elas não acontecem sem razão. Isso é, na verdade, a concepção que todos
nós temos. Freqüentemente nós dizemos um ao outro: “Por que você fez aquilo?”
Isso é o mesmo que dizer: “Qual é a razão por de trás de sua escolha? O que fez
você agir dessa forma?” A pessoa irá freqüentemente responder: “Eu fiz por
causa de x, y e z”.
Todas as Nossas Escolhas são Feitas de Acordo com as
Razões que nós Pensamos serem as melhores
Mas não existem freqüentemente várias razões a favor
de várias escolhas? Por exemplo, que
tal quando você está entre fazer o dever de casa e ficar com os amigos? Como
nós decidimos, então? A resposta é que em toda escolha nós sempre escolhemos a coisa que é mais
apelativa a nós. Em outras
palavras, nossas escolhas não são apenas feitas por uma razão, elas são feitas
de acordo com a razão que nós pensamos ser a melhor. Agora, isso não significa
que nós sempre escolhemos o que é mais lógico. Nossas emoções, bem como nossa
lógica, participam de nossas decisões. Assim, talvez seja melhor expressar
dessa forma: nós sempre escolhemos a opção que nós temos uma grande preferência
por ela. Outros dois caminhos para expressar isso são que nós escolhemos de
acordo com nosso grande desejo, ou que nós sempre escolhemos o que nós pensamos
ser melhor. Mas parece que o caminho mais claro para expressar esta verdade é
dizendo “grandes preferências” porque isso parece conduzir mais claramente ao
fato que há uma combinação da lógica e fatores emocionais nas razões de nossas
escolhas.
Eu irei dar
três razões para sustentar o fato de que nós sempre escolhemos o que
preferimos. Primeiro, isso é auto evidente, negar isso é correr para absurdos.
As alternativas seriam: “nós sempre escolhemos o que é pior”, ou “nós
freqüentemente escolhemos o que nós não queremos”. Segundo, se escolhermos
contrários a nossa grande preferência, então, isso significará que uma
influência fraca pode sobrepor a influência mais forte – o que é uma
contradição.
Terceiro,
escolher contrário a sua grande preferência seria igual a escolher sem razão (o
que vimos ser impossível). Por que isso? Porque, então, não há explicação por
que a pessoa veio a escolher o que ela escolheu. Deixe-me escrever o dilema
dessa forma: se você pode escolher contrário a sua grande preferência, você
terá uma razão para agir dessa forma, ou não teria. Se há uma razão para você
agir dessa forma, então, isso significa que você está realmente fazendo a
escolha por que era mais razoável que outra. Mas, isso é o mesmo que dizer que
você escolheu de acordo com sua preferência – sua grande preferência sendo a
coisa mais razoável. Mas, se havia razões para essa escolha que eram contrárias
a sua grande preferência, então a escolha foi essencialmente feita sem causas
porque nenhuma razão poderia ser dada para o por que de você escolher uma coisa
ao invés de outra. Nessa situação, você poderia ser inclinado a uma certa
escolha, e ainda, sem razão alguma, escolher alguma outra coisa. Como vimos
anteriormente, é impossível fazer uma escolha sem uma causa.
Mas, por
exemplo, quando uma alguém escolhe estudar para um teste quando ele realmente
teria encontrado grande proveito em ir a um cinema? Nesse caso, a pessoa
desejou o longo alcance dos benefícios que a boa nota que estudar poderia
trazer, mais que um curto período de proveito de um bom filme poderia trazer.
Em si mesmo, o filme poderia ter sido muito proveitoso. Mas, todas as coisas consideradas,
estudar é preferível.
Como Nossas Escolhas são Determinadas
Desde que nós escolhemos a opção que nós encontramos
preferência, então, é claro que nossas escolhas são determinadas – elas são
determinadas por nossas preferências. Mas, desde que esta é uma determinação
para escolher a opção que nós queremos mais, isso não destrói de forma alguma
nossa ação moral.
Tendo entendido isso, não é difícil ver como Deus
pode controlar todas as coisas sem violar nossa ação moral. Ele simplesmente
arranja a situação de forma que a opinião que nós encontramos maior apelo é a
escolha que ele havia ordenado para fazermos. Em outras palavras, se Deus quer
que escolhamos a opção A ao invés da opção B, ele trabalha as coisas para que a
opção A seja aquela que nós encontramos preferência. Assim, Deus está no
soberano controle, ainda que escolhamos o que nós queremos mais e estamos,
então, fazendo escolhas reais e genuínas.
Mas, algumas pessoas objetam nesse ponto: “Espere um
minuto. Desde que nós não somos a causa última que determina nossas
preferências, como podemos sustentar responsabilidade por escolhas que
necessariamente vêm dessas preferências?”.
Essa é uma boa questão, pois nos permite clarear um
importante ponto: não importa que nós não determinemos nossas preferências.
Tudo que importa é que nós estamos escolhendo as coisas que nós mais queremos.
Em outras palavras, responsabilidade moral não depende se nossas escolhas
são determinadas (causadas), mas como nossas escolhas são determinadas.
Este é um ponto muito importante, então deixe-me repetir em palavras um pouco
diferentes: autodeterminação não é necessária para nós sermos justamente
responsáveis por nossas más escolhas e não é necessária para fazer de nossas
boas escolhas genuínas. O que essas coisas levantam é que nós escolhemos as
coisas que queremos.
Este fato é o que vemos nas Escrituras acima. De
acordo com as Escrituras, Deus é a causa última de todas as nossas escolhas, e
ainda sustenta nossa responsabilidade por nossas escolhas. Desta forma, determinismo
não destrói responsabilidade moral. Um não necessita do poder de
autodeterminação necessariamente para ser moralmente responsável por suas
ações. Além disso, as Escrituras parecem ensinar compatibilismo, que argumenta
que nossas escolhas são genuínas simplesmente porque nós estamos fazendo o que
é concordável para nós.
Não apenas é o compatibilismo assumido e ensinado nas
Escrituras, como também consistente com o senso comum. Nosso próprio senso
comum mostra que tão logo nós estamos escolhendo de acordo com nossas
preferências, nossa ação moral não é destruída em nenhum grau. Quem poderia
honestamente dizer: “minha escolha de dar dinheiro ao pobre não foi genuína
porque eu estava fazendo a opção que minha preferência indicava”?! Iria um juiz perdoar o criminoso
que disse: “você não pode me responsabilizar por meu crime porque eu queria
fazer isso! Na verdade, eu queria tanto fazer que eu não poderia ter feito de
outra forma”? Claro que não! O
criminoso poderia realmente compor sua culpa pelo fato que ele queria muito
fazer isso, não eximir-se disso.
Então, é perfeitamente aceitável ao senso comum,
mesmo apesar de todas as nossas escolhas serem pré-determinadas, que elas são
genuínas e nós podemos arcar com a responsabilidade por elas, porque elas são as
escolhas que nós consideramos mais razoáveis a serem feitas. É importante
reconhecer, porém, que Deus não faz uma escolha pecaminosa ser razoável da
mesma forma que ele faz com as boas escolhas serem razoáveis. Deus causa as
boas escolhas por uma ação positiva, mas está por trás do mal por meios de
causa negativa. Qual a diferença?
O sol causa o dia na terra pela produção de luz. Isso
é o quero dizer por causa positiva. Deus causa o bem por produzir o bem. Deus
causa o bem pela produção da bondade no coração de alguém, e, assim, isso é sua
causa positiva. Mas, exatamente como a escuridão da noite não é algo que é
produzido pelos raios solares – mas, ao invés disso, é causado por sua ausência
– de igual modo, Deus direciona os desejos maus no coração de uma pessoa
retendo sua graça em restringir até o nível que eles desejam pra fazer o que
Deus havia ordenado. Nós devemos afirmar com veemência que Deus não tenta a
ninguém (Tiago 1.13) porque ele não produz os desejos pecaminosos no coração de
uma pessoa, mas determina e os controla por meio das circunstâncias e o grau ao
qual ele segura sua graça sobre o coração da pessoa. Além do mais, humanos
nascem em pecado. Então, a causa negativa que Deus pratica é simplesmente fazer
com que nós ajamos de acordo com nossa própria natureza. Desse modo, Deus não
pode ser culpado por pecar porque ele controla o mau por meios de causa
negativa – ele direciona isso pela ausência da boa preferência, não pela
produção do mal.
John Piper dá uma conclusão para o caminho que Deus
traz as preferências (motivação) para causar as ações das pessoas: “sempre
tenha em mente que tudo que Deus faz ao homem – seu comando, seu chamado, seu
aviso, sua promessa, seu lamento sobre Jerusalém – tudo é sua forma de criar
situações que funcionarão como motivos para aliciar os atos de desejo que Deus
havia ordenado para virem acontecer. Dessa forma, ele é a causa última que
determina todos os atos e volições (apesar de nem todos serem da mesma forma) e
ainda responsabiliza o homem apenas por aqueles atos que eles querem mais
fazer”.
Para resumir, nossa responsabilidade moral não
depende do se nossas escolhas são determinadas, mas depende de como
elas são determinadas. Tão logo nossas escolhas são causadas pelos nossos
desejos e motivos razoáveis, elas são atos responsabilizáveis. Desde que Deus
controla nossas escolhas pelo controle de nossas preferências, sua soberania
não viola nossa ação moral. Além do que, enquanto Deus é a causa última das
coisas, ele está por trás do bem e do mal de formas diferentes. Deus controla
as circunstâncias e o grau de sua graça para trazer à tona as preferências que
irão aliciar as escolhas que ele havia ordenado. A falácia do Arminianismo é em
pensar que não se pode responsabilizar por algo amenos que isso seja um ato inteiramente
livre e não determinado.
Considerando Algumas Objeções
Nós escolhemos nossas preferências? Talvez um
Arminiano irá admitir que nós escolhemos de acordo com nossas preferências,
mas, então, objetaria que aquelas preferências são, por si mesmas, resultados
de nossas escolhas. Essa objeção, porém, é ilógica. Preferências devem, em
última instância, serem dadas e não escolhidas. Por que? Porque se nós podemos
escolher nossas preferências, nós teremos de perguntar: “Como nós escolhemos
aquelas preferências em particular e não as outras?”. Se foi por um ato de
escolha, isso apenas leva a um passo adiante: não deveria aquela escolha por si
mesma ter sido baseada sobre uma preferência também? Então, não deveriam
aquelas preferências também serem escolhidas baseadas sobre outras
preferências? Como você pode ver, isso iria resultar num ciclo vicioso, sem
jamais encontrar a primeira causa.
Por outro lado, se nós não obtemos nosso desejos por
atos de escolha, então, essas preferências não tinham causa (o que nós já vimos
ser impossível), ou ainda, eles seriam, então, um resultado último da
predestinação do plano de Deus – o que nos traria de volta para a visão
calvinista.
Além disso, é importante entender que nós não fazemos
algo preferível a nós. Nós não escolhemos nossas preferências. Particularmente,
elas são, em última instância, trazidas à tona por Deus por meio das
circunstâncias, nosso caráter, e outras coisas. Por exemplo, eu estudo para o
teste umas poucas semanas atrás porque isso era mais razoável para mim que não
estudar. Agora, eu não fiz estudar ser a coisa mais razoável.
Particularmente, eu considerei a situação e reconheci que estudar era a
coisa mais apelativa para mim. Como um resultado, eu escolhi estudar.
Claramente essa era uma escolha genuína. Todavia, isso era também causa
determinada (e assim não poderia ter sido de outra forma) por que eu
necessariamente escolho a opção que eu encontro mais razões. Então, tanto o
determinismo quanto à responsabilidade moral são compatíveis.
Qual função nosso caráter e as circunstâncias têm em
nossas escolhas? Como vimos anteriormente na citação de John Piper, a resposta
parece ser que Deus usa a eles para trazer a tona nossas preferências. Assim,
num nível secundário, nossas preferências são um resultado de nosso caráter e
da presente circunstância. Em outras palavras, o tipo de coisas que preferimos
depende do tipo de pessoas que somos. Porque nossas preferências estão de
acordo com quem nós somos, elas são genuinamente nossas preferências.
Nós escolhemos nosso caráter? Se alguém objeta
que nós escolhemos nosso caráter (e então, em última instância, nossos
desejos), eu respondo que enquanto nós podemos e realmente afetamos nosso
caráter pela escolha, isso é completamente contraditório pensar de nossas vontades
como a causa última de nosso caráter. Nosso caráter não algo que existe
independentemente de nós, ele é nós. Além disso, na ordem de escolher
nosso próprio caráter, nós precisaríamos existir, na verdade, antes de nós
existirmos.
Isso nos traz a outra importante verdade. Por criar
você, Deus determinou seu caráter. Desde que nosso caráter num grande nível
determina as preferências que temos, Deus num grande nível determina as coisas
que nós escolheríamos porque ele, em última instância, planejou nosso caráter.
Alguém poderia dizer que Deus nos trás à existência, mas de tal forma que ele
não determina nosso caráter. Mas “como Deus pode trazer X à existência sem
através disso definir X, que irá ser determinante de como isso irá funcionar?
Se Deus não o definiu controlando sua natureza, em que sentido Deus trouxe X à
existência (particularmente, então, não-X)?”.
A possibilidade que Deus freqüentemente direciona
nossos desejos direcionando nosso caráter deve também nos ajudar mais tarde, a
ver a consistência entre a soberania divina e a responsabilidade humana. Como
vimos anteriormente, seu caráter não é algo que existe separado de você. Isso
não é uma rede que jogam sobre você. Antes, isso é você. Obviamente,
você não pode ser livre de você mesmo. Suas preferências (deste modo, escolhas)
são verdadeiramente suas e são genuínas porque elas estão de acordo com quem
você é. A soberania de Deus no mínimo não muda isso, mas, particularmente,
parece trabalhar através disso e, então, preserva a responsabilidade moral. O
único caminho para escapar da soberania de Deus seria escapar de ser uma
criatura. Deus, o criador, é sempre soberano sobre o que ele cria por que, na
criação, ele determina o plano e forma disto trabalhar.
Liberdade Arminiana é impossível
Tendo visto que o compatibilismo tem sucesso em
mostrar a consistência da soberania divina e da responsabilidade humana, nós
iremos mostrar a inconsistência da visão arminiana. Na verdade, eu espero
mostrar que a forma arminiana de liberdade não é apenas impossível, mas irá
destruir a responsabilidade moral. Existem três principais afirmações da
liberdade arminiana que nós iremos resumidamente examinar:
- Nós
temos poder de autodeterminação de modo que determinamos nossas
próprias escolhas.
- Anterior
ao ato de escolha, nossa mente está num estado de indiferença – que
é, não há nada necessariamente induzindo a mente em uma das duas direções.
- Nossas
escolhas são contingentes – elas não são necessariamente resultado
de conexões acidentais anteriores. Em outras palavras, para qualquer
situação dada, nós poderíamos ter escolhido de outra forma. Isso é um
corolário lógico do ponto 2, que nossas escolhas são feitas de um estado
de indiferença.
O poder de determinação última é impossível
Considerando a primeira suposição, é impossível para
a vontade humana ser autodeterminante? Eu penso que não. Nós vimos
anteriormente que todas as nossas escolhas têm uma causa. Alguns arminianos
poderiam argumentar que nossas escolhas realmente têm uma causa – elas são
causadas pelo agente. Mas, eles diriam, não há nada que cause o agente a agir.
Porém, suas escolhas são completamente autodeterminadas. Sem serem causadas por
qualquer coisa mais, o agente causa suas próprias escolhas. As coisas que nós
vimos acima para argumentar pelo compatibilismo são suficientes para refutar a
crença arminiana da autodeterminação.
Primeiro, eles estão apenas trazendo o problema um
passo para trás. É obvio que a escolha tem uma causa. Mas eles estão dizendo
que o agente que fez a escolha não foi causado a fazer isso. Como vimos
anteriormente, é impossível, porque tudo que acontece deve ter uma causa.
Segundo, não é o ato do agente de causar sua própria
escolha em si mesma uma escolha – a escolha para fazer uma escolha? Se
for, isso significa que Ele está fazendo uma escolha antes que Ele faça sua
escolha! Terceiro, a visão arminiana contradiz todas as evidências que mostram
que nossas escolhas não são autodeterminadas, mas são determinadas por nossas
preferências. Quarto, se for afirmado que o agente causa sua própria escolha
determinando suas preferências, a inconsistência do que crê nisso também foi
mostrada acima.
Em outras palavras, a objeção essencial para o que
crê que nós possuímos poder de autodeterminação é similar a objeção que nós
vimos anteriormente dada à idéia que nós escolhemos nossos próprios desejos.
Sobre a visão arminiana, devemos perguntar: Por que realmente o agente
fez a escolha que ele fez? Foi aquela um resultado de suas escolhas também? Se
não, então o ato não foi autodeterminado e, logo, isso não é consistente com a
agência moral na visão arminiana. Se fosse um resultado da escolha, então, isso
apenas volta um passo no problema. Pelo que, por que ele escolheu fazer a
escolha que ele fez? Foi aquela escolha também um resultado de uma escolha
anterior? Como podemos ver, o problema se mantém voltando para trás para
sempre. Pode não haver um fim para isso, mas ao invés disso, isso resulta no
absurdo da regressão infinita – uma cadeia de causas que não tem começo.
Freqüentemente, um arminiano tentaria sair desse
arrazoado dizendo que o agente “simplesmente escolhe”. Mas isso pede a
pergunta, pelo isso ser simplesmente repetição da dificuldade e, então, deixa o
buraco da objeção não endereçada. Além disso, a declaração que o agente “apenas
escolhe” é equivalente a dizer que ele age sem causa. Mas, como vimos
anteriormente, é impossível qualquer coisa acontecer sem uma causa.
Escolher num estado de indiferença é impossível
A próxima suposição da liberdade arminiana é que a
vontade é neutra o suficiente para ir em qualquer caminho. Além disso, qualquer
decisão feita, nós poderíamos ter escolhido de outra forma (o que é, então, a
terceira suposição da liberdade arminiana). Pelo fato de que a segunda e a
terceira suposições são tão proximamente relacionadas, refutar uma é
necessariamente refutar a outra. Primeiro, nós iremos agora ver que é
impossível para a mente escolher em um estado de indiferença.
Enquanto o ponto de vista arminiano realmente
reconhece que razões cercam nossos atos de vontade, eles negam que essas razões
são fortes o suficiente para “inclinar a vontade decisivamente em um
caminho ou outro. Ao invés, a vontade, a despeito de sua inclinação, é neutra o
suficiente de tal modo que pode e, às vezes, realmente escolhe contrariamente à
direção que a causa a inclina”.
O primeiro problema com essa visão é que contradiz a
verdade que nós fazemos escolhas com um objetivo em vista. Isto é, nós agimos
com um propósito. Mas, se você tem um propósito para a sua ação, você não está
escolhendo de um estado de indiferença.
Segundo, ser indiferente para suas escolhas não é
tido pelo senso comum como uma boa coisa – é mau para uma pessoa (em situações
morais) não se importar (ou seja, ser indiferente) com que eles estão
escolhendo.
Terceiro, se a vontade não tem preferência decisiva
que determine a opção a ser selecionada, se A ao invés de B, então a pessoa
simplesmente não poderia agir. É a situação proverbial do burro estagnado entre
dois baldes de feno que ele tem igual desejo, e ele termina morrendo de fome
por ser incapaz de fazer a escolha. A real escolha da opção A ao invés da opção
B é o ato de determinar sua preferência por A ao invés de B. Mas, se sua
escolha é de um estado de neutralidade, não há preferência a ser determinada,
e, então, nenhuma escolha pode ser feita.
Quarto, para pessoa agir de um estado de indiferença
é o mesmo que uma pessoa agir sem uma causa. Por que? Porque não há nada que
esta necessariamente trazendo a tona a escolha. Ao invés, pode ir para qualquer
lado. Mas, uma causa, por definição, é algo que necessariamente trás a
tona um efeito. Se não há nada que necessariamente resulte em você escolher uma
escolha em particular, então não há, por definição, uma causa para aquela
escolha. Isso faz a indiferença impossível porque, como nós vimos
anteriormente, nada pode acontecer sem uma causa.
É o Arminianismo, não o compatibilismo que
destrói a responsabilidade moral. Neste ponto somos capazes de ver que
a liberdade arminiana destrói a responsabilidade moral. Por que? Porque se nossas
escolhas acontecem sem uma causa, é o mesmo que elas acontecerem
aleatoriamente. Eventos sem causa são por definição eventos aleatórios. Como
disse o filósofo Moritz Sclicke, não há “outra oposição à casualidade” além da
chance. Mas, se nossas escolhas são eventos do acaso, então como poderíamos ter
responsabilidade sobre elas? Se nossas escolhas são meramente “acidentes”
aleatórios que ocorrem sem nenhuma causa, criminosos poderiam se livrar das
algemas porque eles não pretenderam quebrar a lei – isso apenas aconteceu sem
razão alguma. Como disse um filósofo: “se uma decisão é sem causa, ela seria
inteiramente se conexão com nossos traços de caráter e nossa personalidade…
como podemos ser responsáveis por uma decisão que está dissociada de nós mesmos
dessa forma?”. “Um acontecimento sem causa é o idêntico a um acontecimento por
acaso, e conseqüentemente uma vontade (não causada) destrói toda
responsabilidade”.
Com a condição de que o arminiano irá negar que eles
acreditam que escolhas são aleatórias. Mas então, o dilema incorre nisso: “Como
alguém vem a agir? Se não há condições o suficiente (causa), a pessoa não irá
agir, ou se ela agir, o ato é aleatório. Se há uma condição suficiente, então
ela irá agir, mas o ato será causadamente determinado. Em qualquer caminho,
indeterminismo (Arminianismo) está em problemas. Interdeminismo freqüentemente
diz que o agente “apenas agiu”. Porém, essa afirmação simplesmente repete sua
visão; isso não explica como o agente vem a agir sem ser causadamente
determinado ou sem fazer uma escolha aleatória, nenhuma das quais é liberdade
de incompatibilismo”.
Habilidade para fazer de outra forma
A inconsistência do Arminianismo. Em
último lugar, indeterminismo argumenta que um ingrediente necessário à
responsabilidade moral é que o agente poderia ter feito de outra forma.
No preceito de ser responsável por uma ação, você deve ter a habilidade de ir
em ambas as direções. Se há alguma coisa fazendo uma certa decisão inevitável,
sua escolha não foi livre.
Deve ter ficado evidente acima que habilidade de
fazer de outra forma é impossível em qualquer escolha. O único caminho que nós
poderíamos fazer de outra forma seria também escolher contrário a nossa grande
preferência ou escolher de um estado de indiferença – o que vimos ser ambos
falsos. Em segundo lugar, a habilidade de fazer de outra forma significaria a
habilidade de fazer escolhas sem uma causa: “Dizer que um ocorrido pode ser
diferente mesmo que se todas as condições primárias imediatas sejam as mesmas,
é o mesmo que dizer que o ocorrido é sem causa”. Como vimos anteriormente, é
impossível qualquer coisa acontecer sem uma causa. Porém, a habilidade de fazer
de outra forma também não é possível.
Além disso, nós vimos em nossa análise do
compatibilismo que a habilidade de fazer de outra forma não é necessária para
responsabilidade moral. Tudo que é necessário para responsabilidade moral é que
você está fazendo o que você quer fazer, a parte de qualquer compulsão externa
(isto é, força). Liberdade é a habilidade de fazer uma decisão não forçada que
está de acordo com suas grande preferências.
Incapacidade moral e incapacidade natural.
Neste ponto, uma distinção feita por Jonathan Edwards (e muitos outros
compatibilistas, mas Edward parece ser o mais claro e profundo) irá, além de
tudo, mostrar a consistência entre soberania divina e a responsabilidade
humana. A distinção é entre incapacidade moral e incapacidade natural.
Incapacidade moral significa a lacuna do desejo de fazer alguma coisa. Um
exemplo seria se eu estivesse tão satisfeito na livraria que eu simplesmente
não poderia me levantar e ir à aula. Eu não tenho o desejo de estar presente na
aula e, por isso, era moralmente incapaz de ir. Incapacidade natural seria se
eu fosse fisicamente impedido de ira a aula. Isso seria se eu fosse amarrado a
uma cadeira e, então, eu era incapaz de ir a aula mesmo que eu quisesse.
O ponto é que a incapacidade moral não exime da culpa
“conforme o julgamento quase que universal dos homens, por mais forte que o
desejo de um homem seja de fazer o mal, mais incapaz ele está de fazer o bem, e
ainda mais enfraquecido ele é julgado ser pelos homens. Se homens realmente
acreditam que incapacidade moral exime um homem da culpa, a fraqueza de um
homem iria decrescer na proporção da intensidade de seu amor pelo mal. Mas isso
é contrário à sensibilidade moral de quase todos os homens”.
Porém, o compatibilismo reconhece que alguém deve ser
capaz de fazer de outra forma na ordem de ser moralmente responsável. Mas isso
é apenas uma habilidade natural de fazer de outra forma que é
necessário, não uma habilidade moral para fazer de outra forma. Nós
nunca tivemos a habilidade moral de escolher outra coisa do que escolhemos,
ainda assim (como vimos) isso não remove a responsabilidade. Todas as nossas
escolhas são feitas pela necessidade moral porque elas são causadas por nossas
maiores preferências.
Isso nos leva à próxima distinção: necessidade moral
e necessidade natural. Elas estão no outro lado da moeda. Algo é moralmente
necessário se é minha grande preferência. Não posso escolher diferente do que
eu mais quero. Algo é naturalmente necessário se eu sou forçado a fazer isso.
Animais de estimação, por exemplo, são controlados pela necessidade natural. O
guia simplesmente manipula a coleira que está presa neles e por meios físicos
força-os a fazerem a ação. Se fazemos algo fora da necessidade natural, nós
somos responsáveis por isso. Mas necessidade moral não remove responsabilidade.
Por exemplo, quando Martinho
Lutero levantou-se foi dito pela igreja Católica Romana para desmentir seus
ensinos, ele disse que ele não iria desmentir e que não poderia fazer de outra
forma. Ele acreditou tão fortemente no que estava ensinando que ele
necessariamente recusou desmentir. É claro que não seria razoável argumentar
que, então, Lutero não estava fazendo uma escolha genuína!
O ponto é: “Na intenção de ver como a soberania de
Deus e a responsabilidade humana são perfeitamente coerentes, a pessoa precisa
apenas perceber que o caminho que Deus trabalha no mundo não é impondo necessidade
natural nos homens e, então, tomá-los por responsáveis pelo que eles não
podem fazer, mesmo apesar deles quererem fazê-lo. Burt prefere dizer que Deus
dispôs todas as coisas (Efésios 1.11) de tal modo de acordo com nossa
necessidade moral que todos os homens tomam apenas aquelas escolhas ordenadas
por Deus na eternidade”.
Conclusão e aplicações
Concluindo, não estou declarando conhecer tudo (ou a
maioria) dos caminhos de Deus nesta área. Nosso conhecimento é muito, muito
pequeno. Mas eu acredito que Deus tem dado informações suficientes disponíveis
para nós, para, ao menos, vermos como sua soberania é consistente com a
responsabilidade moral. Nós temos visto que o compatibilismo tem êxito em
mostrar sua consistência. Nós também vimos com a visão que nega a absoluta
soberania de Deus e tenta preservar nos humanos um livre-arbítrio não é apenas
impossível, mas parece realmente destruir a responsabilidade humana.
É sempre importante aplicar o que nós conhecemos. As
coisas que vimos aqui devem nos capacitar a nos aventurar na maravilhosa
sabedoria de Deus, pela qual Ele pode determinar todas as coisas sem violentar
a vontade de Suas criaturas. Isso deve nos prender sob Deus, através de Cristo,
em grande confiança, por sermos inteiramente dependentes de Deus para todo bem.
Esta informação também deve nos ajudar a nos apoiar na grande verdade da
soberania de Deus com grande confiança, e eu oro para que isso ajude a fixar
muitas mentes no descanso de ambas as verdades: absoluta soberania de Deus e
responsabilidade humana. É uma coisa verdadeiramente gloriosa que o Reinado
Soberano de Deus não é inconsistente com Seu governo moral de Suas criaturas.
Antes de terminar, nós estamos numa boa posição para
usar o que nós aprendemos a responder umas das mais freqüentes questões sobre a
soberania de Deus sobre todas as coisas: Por que a soberania de Deus não nos
faz marionetes? Eu ofereço nove razões porque não somos marionetes (apesar de
que existem muitas outras):
- Humanos são
autoconscientes, marionetes não.
- Humanos fazem escolhas,
marionetes não.
- Humanos usam a lógica,
marionetes não.
- Humanos têm emoções,
marionetes não.
- Humanos têm preferências,
marionetes não.
- Humanos agem de acordo com
suas preferências, marionetes não.
- Humanos conscientemente
fazem o que é determinado para eles, marionetes inconscientemente fazem o
que é determinado para elas.
- Humanos entendem por que
eles estão fazendo o que eles estão fazendo – eles agem por alguma razão,
marionetes não.
- Marionetes são
determinadas por necessidade física, humanos por necessidade moral.
Rev. Ricardo, o que acha da visão ocasionalista?
ResponderExcluirGraça e paz, Rev. Ricardo! Gostaria de saber se você é compatibilista, concorrentista ou ocasionalista. Gostaria também de saber sua opinião sobre o escritor Vicent Cheung; principalmente da afirmação dele de Deus ser o "autor do pecado".
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