José, o caráter de Cristo e as promessas de Deus
Sempre me impressionou muito a
providência divina. As pessoas buscam milagres e se “abestalham” em busca de
milagres, visando contemplar o pode de Deus. Igrejas usam como chamariz o
slogan: “Venha buscar o seu milagre”. Clamores são levantado constantemente em
busca de que Deus opere e intervenha em situações, mudando a ordem natural das
coisas, a fim de que se evite um resultado negativo iminente.
Eu me impressiono com a providência
de Deus. Não me entenda mal, eu creio em milagres. A começar, creio que a
conversão é um milagre dos grandes; sujeito tava morto espiritualmente, agora,
está ali, vivo, orando e buscando a Deus – “é para louvar de pé, igreja!” Creio
em curas, livramentos e tantas outras possíveis intervenções de Deus no transcurso
das coisas. Só acho que a verdadeira demonstração de poder está na providência.
A providência é a ideia de Deus
está dirigindo todas as coisas a fim de que seus planos se cumpram. Desde a
eternidade ele estabeleceu a história e ela transcorre sem impedir um único
plano de Deus. Eclesiastes 3.1 afirma que o tempo serve aos propósitos de Deus.
Todas as coisas têm seu tempo e todo tempo foi determinado para servir àquele
propósito. O tempo não é uma questão incidental, mas a quarta dimensão da
realidade física criada pelo Senhor, a fim de que seu plano transcorra. Altura,
largura, profundidade e tempo foram criados para a realização do plano divino.
Lendo Mateus 1 nesta manhã, me
ocorreu toda providência da ação divina sobre o nascimento de Jesus. É impressionante
o milagre operado pelo Espírito Santo em unir a divindade de Cristo à humanidade
do gameta de Maria. Jesus foi gerado e gestado pelo poder miraculoso de Deus.
Contudo, aquela que achou graça diante de Deus, mesmo nascida em pecado como humana
que era, foi criada, cresceu e se tornou a mulher para receber em seu ventre o
Salvador. Deus não procurou por alguém como Maria, Deus criou Maria e a fez ser
pela instrumentalidade da fé, no poder do Espírito, aquilo que era necessário a
seus planos.
Agora, olhando para José, vemos
ainda mais providência. Esse descendente de Davi, que viria a ser reconhecido
como pai de Jesus, também foi chamado à existência para desempenhar tal papel. Quando
vejo a afirmação bíblica de que ele era um homem justo, vejo a mão do Senhor
agindo sobre um ímpio e dando a ele o caráter daquele de quem ele seria pai.
Ouvir que sua noiva está grávida
de outro não é fácil para quem quer que seja. A Lei dava o direito a carta de
divórcio ao homem que descobrisse que a mulher com quem se casou já não era
mais virgem (Dt 24.1 – alguns dirão que é machismo da Bíblia, pois nada é dito
ao homem; ora, como saber se o homem é virgem? A lei voltada para o homem seria
inútil). Contudo, José era justo e isso não o fez seguir a Lei do divórcio, mas
do amor (“amarás o teu próximo como a ti mesmo” Lv 19.18). Assim como aquele
que era gerado por Maria, José escolheu redimi-la e cobrir seus pecados.
Ao invés de deixar Maria parecer
adúltera, José fugiria, fazendo parecer ser ele o covarde. Ele não poderia voltar
àquele lugar. Pela vergonha, não poderia voltar ao seio de sua família. Levaria
a culpa de ser um homem covarde que abandona sua mulher e filho, deixando Maria
com a imagem de mulher abandonada, ao invés de adúltera. Assim como Cristo, José estava cobrindo
Maria – o amor cobre multidão de pecados (1Pe 4.8). Deus não só criou Maria,
Deus levantou José e deu a ele o mesmo tipo de justiça de nosso Senhor. Não era
o ideal, ainda vemos o orgulho de José, mas já era melhor para Maria que para
ele.
Perceba, Maria e José não
apareceram do nada. Não são personagens estranhos à história que surgiram como
um passe de mágica, prontos a se tornarem os pais de Cristo. Foram seres
humanos que nasceram, se desenvolveram, tinham relacionamento com Deus e foram
usados para seus propósitos eternos. José creu na mensagem do Anjo do Senhor e
creu que em sua noiva estava o Salvador, o Messias. Mais uma vez, o caráter de
Cristo transpareceu naquele que seria reconhecido como seu pai. Ele aceitou
criar o filho que não era dele, aceitou ser reconhecido como seu pai, ter o
ventre de sua esposa ocupado e não a conhecer até que ela desse à luz a Jesus
(Mt 1.25), para que seu povo pudesse ser salvo de seu pecado (Fl 2.5-11).
Mateus nos lembra que esse era o
cumprimento da profecia entregue por Isaías. A virgem estava concebendo e daria
à luz ao Emanuel (Is 7.14). José era o homem levantado por Deus para que a
virgem não fosse difamada. José era o homem levantado por Deus para que Jesus
fosse reconhecido como descendente de Davi. José era o homem levantado por Deus
para Jesus nascer em Belém.
Em sua providência, Deus levanta
impérios. Cesar Augusto convocou o recenseamento no período que Jesus nasceria,
forçando José a ir com Maria para Belém e confirmar o que fora dito por
Miquéias, quanto à localização do nascimento do Messias (Mq 5.2). Assim como a
Babilônia foi levantada para ser a mão de Deus pesando sobre os pecados de Israel,
Roma foi levantada, para elaborar todo o contexto próprio para o nascimento e
realização do plano eterno de Deus. José, inserido nesse ambiente
espaço-temporal, serviu aos propósitos divinos e viu promessas se cumprirem.
José andou pela fé. Creu que seu
sonho era real. Creu que as promessas eram confiáveis e que era hora de se
cumprir a vinda do Messias. José não havia visto nenhum milagre de Cristo, não
havia fatos testemunhados ou contados por outros para convencê-lo. Ele teve
apenas um sonho, não uma visão, ou um toque, apenas um sonho e sua visão de
mundo mudou.
Sua fé se fortaleceu e ele
aceitou sua missão. Andou na direção de Deus e de sua noiva. A tomou como
esposa, assumiu seu filho, passou por maus bocados, para ver a promessa de Deus
realizar-se. José era providência de Deus para a vinda de Jesus. José era
providência de Deus para o ensino da igreja sobre a fé.
Pela fé as promessas bastam. Pela
fé, as promessas são maiores que as alegrias, autoimagens, aprovações e Leis palpáveis
e visíveis que regem esse mundo – a promessa é superior à Lei (Cf. Hb 7). José viveu
por fé e viu o cumprimento de promessas mostrarem que o que Deus tem para seu
povo é muito maior do que se poderia esperar: “Porque
desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos
se viu Deus além de ti, que trabalha para aquele que nele espera.” (Is 64.4)
José tinha a promessa de desposar Maria e tornou-se o pai do Redentor. De fato,
as promessas de Deus potencializam as alegrias deste mundo, mudam a perspectiva
pela qual as interpretamos e tiramos proveito.
Assim são
as promessas de Deus: o profeta dá uma ideia, Deus eleva à potência máxima.
Abrão esperava Canaã, Cristo entregará a Terra; esperou Isaque, tornou-se pai
de todos os que creem (Gl 3.7). Isaías prometeu um libertador para um povo que
seria subjugado por uma nação ímpia, Deus entregou seu Filho e nos libertou do
pecado. Caso nossos olhos não aprendam o olhar na perspectiva da fé, não experimentaremos a
grandeza do que Deus tem e deixaremos de aproveitar desde já o que Deus
prometeu.
Materialistas
só conseguem ver que matéria gera matéria. Pensam que é o trabalho que
sustenta. Acham que pela transformação da indústria que as coisas se constroem e
não lembram que o visível veio do que é invisível (Hb 11.3). Sem o olhar da fé
ficamos presos às quatro dimensões (altura, largura, profundidade e tempo) e
não percebemos que elas são apenas o palco da providência divina. Que o Senhor
não ficará alterando a ordem natural das coisas a fim de realizar milagres,
pois elas foram criadas já como parte do plano divino e servem ao propósito divino.
De fato, o Criador é o sustentador da ordem natural das coisas (Sl 104),
suportando todas as coisas pela Palavra de seu poder (Hb 1.3).
Em José
vemos que a promessas de Deus potencializam as alegrias desta vida. O que era
apenas um passo normal da vida de um homem, ganhou outro caráter. Podemos fazer
o mesmo, simplesmente pensando, quando olhamos uma paisagem, comemos algo
gostoso, ou desfrutamos de bons momentos ao lado de quem amamos, que em Cristo a
paisagem será redimida, o banquete será eterno e em sua presença e nossos
amados serão transformados à imagem daquele que nos resgatou. Se já é bom,
será melhor, se está ruim, não se comparará com a glória do porvir (Rm 8.18). José
nos ensina que o que garante isso não é o milagre, mas a providência. Milagre é
um lembrete de quem está por detrás dessa realidade. Um lembrete de que somos
parte do teatro de Deus da vida, seguindo seu roteiro. Providência é o que a tudo isso sustenta.
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