Ateíston, o ateu, e seu sonho de uma sociedade livre.
Ateíston já estava cansado de sua vida em sociedade. Como um ateu convicto, convenceu sua esposa, Duvidosa, a mudarem-se para uma ilha deserta e fora da posse de qualquer país. Ali, estabelceu-se longe da ideia mais nociva que ele conhecia: Deus.
Desejoso de que seus filhos não crescessem ouvindo toda aquela baboseira de religião, iniciou sua vida com sua esposa longe de toda a sociedade ainda tão atrasada e afetada pela noção de divindade.
Passado algum tempo, sua esposa engravida. São gêmeos e isso deixa Ateíston muito alegre:
- "Finalmente!" – pensou Ateíston – "Vou fundar uma sociedade baseada na razão e longe de todo aquele misticismo e ideias mirabolantes."
Passados alguns anos, seus filhos já adolescentes, Ateíston os vê discutindo. Com tantos ensinamentos sobre evolução, Big Bang, física, química, matemática e filosofia existencialista, o assunto não poderia ser outro: qual o propósito de tudo isso.
- Chega meninos! Pra que tanta discussão? – perguntou o cuidadoso pai.
- Pai – disse seu filho Herectus – Não consigo ver lógica em tudo que você nos ensinou.
- Como não? – disse o surpreso Ateíston.
- É, pai. – concordou seu filho Darwin – Pra que tudo isso? Aliás, com seus ensinos de matemática, calculamos a probabilidade de que as coisas acontecessem da forma como você nos contou e vimos que seria quase impossível que estivéssemos aqui.
- Sim, meu filho, pode ser, mas aqui estamos. Não é?
- Sim, pai, mas como? Seria necessário que tanta coisa se movesse para isso, como se alguém estivesse manipulando tudo para nesse sentido.
- Que isso meu filho! Também não é assim. Matemática não é tudo! – falou o trêmulo Ateíston.
- Não!! – exclamaram em surpreso coro Herectus e Darwin.
- Então, o que é matemática? Você nos disse que tudo se explica por meio de fórmulas matemáticas? – duvidou o já desesperado Herectus.
- É pai, você não nos deixava jogar pedras ao mar, correr pela praia para estudarmos cálculos avançados, matrizes, funções, estatística, probabilidade, equações enfim, segundo você, tudo o que um bom matemático tem de saber??? – inqueriu o já duvidoso Darwin.
- Bom, meus filhos, a matemática é tudo isso sim, mas há a questão do acaso. – defendeu-se Ateíston.
- Acaso? – o mesmo coro de antes.
- Sim, é quando tudo tem chance de ser outra coisa, mas, por "acaso", o que tinha a menor chance de acontecer, acontece.
- Hummm, então o acaso é a força inteligente que dirigiu tudo para que fosse tão harmônico, apesar de todo caos que é visto na realidade subatômica?
- Não! Pois ai, o acaso seria um ente superior, um deus consciente e imanente! – expantou-se Ateíston.
- Deus!! – outro coro – o que é um deus, papai?
- Nada, meu filho, nada. – tentou esconder Ateíston.
Curiosos com aquela palavra totalmente nova, Herectus e Darwin foram perguntar para sua mãe:
- Mamãe! O que deus? – pergunto o já tradicional coro.
"PLAF!!!" faz o prato ao espatifar-se numa pedra. Trêmula, pergunta a mãe:
- Mas onde vocês ouviram essa palavra?
- O papai quem disse.
- Seu pai? Mas por que ele disse isso?
- Ele estava tentando explicar como as coisas são da forma como são, sem que um ser superior as tenha conduzido. Daí, ele falou desse ser que conduz todas as coisas e a chamou de deus: acaso.
- Puxa! Acho que vocês não entenderam bem o que ele quis dizer.
- Não!
- Não. O acaso não é deus, mas um fator no meio dos acontecimentos que os aleatórios e sem muita conexão com o que veio antes. É quando as coisas apenas são o que são.
- Mas, isso não é sair das explicações matemáticas e científicas e partir para a irracionalidade de explicações sem fundamento? – questionou o prodigioso Darwin.
- Não, meu filho, isso é um fato que nós ainda não conseguimos explicar, mas sabemos que está lá.
- Hum, então a tudo aquilo que a ciência não consegue explicar, mas também não consegue negar ela chama de acaso? Como um ser que ninguém vê, mas que está por detrás de tudo? – perguntou o não menos prodigioso Herectus.
- NÃO! Esse é o deus dos ignorantes.
- Ahaa! Deus de novo! – acusaram os irmãos.
- NÃO! Deus não existe!
- Como não? Já ouvimos falar dele duas vezes hoje!? E por que há uma palavra para um ser que não existente?
- Ora, é como dragão, ele não existe, mas há uma palavra para ele. – respondeu a esperta mãe.
- É, mas o dragão é todo ele envolto nas histórias lendárias, de um mundo não existente somente presente na história. Mas o deus acaso está presente nas relações de causa e efeito de nossa realidade. – rebateu o epistemologicamente maduro Darwin.
- Sim, ma-ma-ma-mas o acaso não é deus!
- Tá bom, chamemos apenas de acaso.
- Bom filhos, vão chamar o pai de vocês que já vamos jantar.
No dia seguinte, Ateíston e sua esposa, Duvidosa, acordaram e se deram conta da ausência de Herectus e Darwin. Preocupados que tenha ido nadar perto da área dos tubarões, eles saíram a procura de ambos. Não muito depois, os encontraram no ponto mais alto da ilha, admirando a paisagem e falando, mas não um com o outro, mas com alguém que não estava lá:
- Oh! Grande acaso! A você que nos deu todas essas coisas e as tornaste possível, oferecemos nosso dia!
- O que é isso? - questionou Ateílton – vocês estão falando com o nada?
- Não, estamos falando com o acaso, não foi ele que fez com que tudo fosse deste modo?
- Não! – Duvidosa.
- Já disse – complementou o pai – que foi tudo obra das leis da física e da matemática.
- Mas pai, a matemática não aponta nessa direção da vida, mas da inexistência dela, como falamos ontem.
- Já chega Herectus e Darwin, já pra casa estudar!
- Não papai, não queremos mais sermos chamados assim. – respondeu Darwin.
- Mas esses são seus nomes! – surpreendeu-se Ateíston.
- É, mas agora entendemos melhor a vida e sabemos que há algo mais. Escolhemos novos nomes para nós – disse Herectus.
- Quais? – perguntou Duvidosa.
- Eu quero me chamar Sapiens – disse o já não mais Herectus –, pois agora sei que há alguém acima de nós.
Boquiabertos, os pais ainda tiveram de ouvir do outro filho.
- E eu quero me chamar Davi, como um trocadilho e uma homenagem à vida.
- Nããããããããoooooooo. – e foi a última palavra que se ouviu de Ateíston e Duvidosa antes de voltarem à vida em sociedade e frustrados em formar seu sonho de um mundo livre de Deus.
Desejoso de que seus filhos não crescessem ouvindo toda aquela baboseira de religião, iniciou sua vida com sua esposa longe de toda a sociedade ainda tão atrasada e afetada pela noção de divindade.
Passado algum tempo, sua esposa engravida. São gêmeos e isso deixa Ateíston muito alegre:
- "Finalmente!" – pensou Ateíston – "Vou fundar uma sociedade baseada na razão e longe de todo aquele misticismo e ideias mirabolantes."
Passados alguns anos, seus filhos já adolescentes, Ateíston os vê discutindo. Com tantos ensinamentos sobre evolução, Big Bang, física, química, matemática e filosofia existencialista, o assunto não poderia ser outro: qual o propósito de tudo isso.
- Chega meninos! Pra que tanta discussão? – perguntou o cuidadoso pai.
- Pai – disse seu filho Herectus – Não consigo ver lógica em tudo que você nos ensinou.
- Como não? – disse o surpreso Ateíston.
- É, pai. – concordou seu filho Darwin – Pra que tudo isso? Aliás, com seus ensinos de matemática, calculamos a probabilidade de que as coisas acontecessem da forma como você nos contou e vimos que seria quase impossível que estivéssemos aqui.
- Sim, meu filho, pode ser, mas aqui estamos. Não é?
- Sim, pai, mas como? Seria necessário que tanta coisa se movesse para isso, como se alguém estivesse manipulando tudo para nesse sentido.
- Que isso meu filho! Também não é assim. Matemática não é tudo! – falou o trêmulo Ateíston.
- Não!! – exclamaram em surpreso coro Herectus e Darwin.
- Então, o que é matemática? Você nos disse que tudo se explica por meio de fórmulas matemáticas? – duvidou o já desesperado Herectus.
- É pai, você não nos deixava jogar pedras ao mar, correr pela praia para estudarmos cálculos avançados, matrizes, funções, estatística, probabilidade, equações enfim, segundo você, tudo o que um bom matemático tem de saber??? – inqueriu o já duvidoso Darwin.
- Bom, meus filhos, a matemática é tudo isso sim, mas há a questão do acaso. – defendeu-se Ateíston.
- Acaso? – o mesmo coro de antes.
- Sim, é quando tudo tem chance de ser outra coisa, mas, por "acaso", o que tinha a menor chance de acontecer, acontece.
- Hummm, então o acaso é a força inteligente que dirigiu tudo para que fosse tão harmônico, apesar de todo caos que é visto na realidade subatômica?
- Não! Pois ai, o acaso seria um ente superior, um deus consciente e imanente! – expantou-se Ateíston.
- Deus!! – outro coro – o que é um deus, papai?
- Nada, meu filho, nada. – tentou esconder Ateíston.
Curiosos com aquela palavra totalmente nova, Herectus e Darwin foram perguntar para sua mãe:
- Mamãe! O que deus? – pergunto o já tradicional coro.
"PLAF!!!" faz o prato ao espatifar-se numa pedra. Trêmula, pergunta a mãe:
- Mas onde vocês ouviram essa palavra?
- O papai quem disse.
- Seu pai? Mas por que ele disse isso?
- Ele estava tentando explicar como as coisas são da forma como são, sem que um ser superior as tenha conduzido. Daí, ele falou desse ser que conduz todas as coisas e a chamou de deus: acaso.
- Puxa! Acho que vocês não entenderam bem o que ele quis dizer.
- Não!
- Não. O acaso não é deus, mas um fator no meio dos acontecimentos que os aleatórios e sem muita conexão com o que veio antes. É quando as coisas apenas são o que são.
- Mas, isso não é sair das explicações matemáticas e científicas e partir para a irracionalidade de explicações sem fundamento? – questionou o prodigioso Darwin.
- Não, meu filho, isso é um fato que nós ainda não conseguimos explicar, mas sabemos que está lá.
- Hum, então a tudo aquilo que a ciência não consegue explicar, mas também não consegue negar ela chama de acaso? Como um ser que ninguém vê, mas que está por detrás de tudo? – perguntou o não menos prodigioso Herectus.
- NÃO! Esse é o deus dos ignorantes.
- Ahaa! Deus de novo! – acusaram os irmãos.
- NÃO! Deus não existe!
- Como não? Já ouvimos falar dele duas vezes hoje!? E por que há uma palavra para um ser que não existente?
- Ora, é como dragão, ele não existe, mas há uma palavra para ele. – respondeu a esperta mãe.
- É, mas o dragão é todo ele envolto nas histórias lendárias, de um mundo não existente somente presente na história. Mas o deus acaso está presente nas relações de causa e efeito de nossa realidade. – rebateu o epistemologicamente maduro Darwin.
- Sim, ma-ma-ma-mas o acaso não é deus!
- Tá bom, chamemos apenas de acaso.
- Bom filhos, vão chamar o pai de vocês que já vamos jantar.
No dia seguinte, Ateíston e sua esposa, Duvidosa, acordaram e se deram conta da ausência de Herectus e Darwin. Preocupados que tenha ido nadar perto da área dos tubarões, eles saíram a procura de ambos. Não muito depois, os encontraram no ponto mais alto da ilha, admirando a paisagem e falando, mas não um com o outro, mas com alguém que não estava lá:
- Oh! Grande acaso! A você que nos deu todas essas coisas e as tornaste possível, oferecemos nosso dia!
- O que é isso? - questionou Ateílton – vocês estão falando com o nada?
- Não, estamos falando com o acaso, não foi ele que fez com que tudo fosse deste modo?
- Não! – Duvidosa.
- Já disse – complementou o pai – que foi tudo obra das leis da física e da matemática.
- Mas pai, a matemática não aponta nessa direção da vida, mas da inexistência dela, como falamos ontem.
- Já chega Herectus e Darwin, já pra casa estudar!
- Não papai, não queremos mais sermos chamados assim. – respondeu Darwin.
- Mas esses são seus nomes! – surpreendeu-se Ateíston.
- É, mas agora entendemos melhor a vida e sabemos que há algo mais. Escolhemos novos nomes para nós – disse Herectus.
- Quais? – perguntou Duvidosa.
- Eu quero me chamar Sapiens – disse o já não mais Herectus –, pois agora sei que há alguém acima de nós.
Boquiabertos, os pais ainda tiveram de ouvir do outro filho.
- E eu quero me chamar Davi, como um trocadilho e uma homenagem à vida.
- Nããããããããoooooooo. – e foi a última palavra que se ouviu de Ateíston e Duvidosa antes de voltarem à vida em sociedade e frustrados em formar seu sonho de um mundo livre de Deus.
Cara, belo post.
ResponderExcluirSó dê uma olhada porque você começou a chamar o cabra de Ateílton no meio do texto pro final.. rs
uma questão: o danado do herectus virou um evolucionista teísta??? hahhaha
grande abraço.
Rsrsrs.
ResponderExcluirEsse textou foi um daqueles de altas horas e fiz um monte de correções. Mas ainda tem mais pela frente. Valeu pelo toque.
Isso mesmo, o danado do Herectus virou evolucionista teísta. Depois vem mais história e deixará de ser Sapiens. Mas aqui ficou claro que, quando admite-se a existência de Deus, há uma evolução no ser humano, ainda que não nos termos de Darwin... mas isso é cena dos próximos capítulos, e uma descoberta desses meninos que voltaram para a civilização com seus pais.
Abraço para vcs e um beijo na minha sobrinha.
Olá!
ResponderExcluirMuito bacana a postagem!
Que Deus o abençoe!
seria um prazer te-lo como amigo no meu blog:
http://rose-brytto.blogspot.com
Vivendo a Fé!
Rose, muito obrigado por sua visita. Será um prazer ver seu trabalho.
ResponderExcluirUm abraço.